quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O que as novelas nos ensinam



Um pouco porque algumas novelas estão anunciando seus últimos capítulos, um pouco porque a nova novela global esteja mostrando a dura realidade vivida pela população do Rio de Janeiro no fim do século XIX/ início do século XX, tenho pensado bastante naquilo que as novelas nos ensinam.

Recentemente, quando acompanhava um dos capítulos de “Amor eterno Amor”, fui surpreendida por um diálogo maravilhoso acerca de ciúmes excessivos.  Há muitas maneiras de matar um amor, ciúmes desmedidos são armas eficazes para esse fim. A cena, que fazia parte do término de um casamento, foi um presente para aqueles que gostam de analisar as relações humanas. “Seus ciúmes me humilham”, dizia o personagem Kléber à esposa Jaqueline, diante das desconfianças absurdas da mulher. Tal trecho da novela merece ser revisto. Não só pelo diálogo entre o casal, mas por todos os que se seguiram entre Kleber e as moças que foram o estopim para a concretização daquela separação. Não há dúvidas de que uma separação, muitas vezes, se constrói durante anos. “São tantas coisinhas miúdas roendo, comendo, arrasando aos poucos com o nosso ideal”, já cantava o saudoso Gonzaguinha em seu “grito de alerta”. Tempos e tempos  abastecendo um barril de pólvora que vezes explode à menor fagulha.

Na mesma trama, a transformação da personagem Cris, auxiliada pelos sábios conselhos e, mais do que isso, pelo amor de seu avô também deve ser olhada com particular atenção. As falas cheias de dignidade e maturidade da personagem Miriam diante da impossibilidade da realização amorosa são definitivamente um primor, um exemplo, um gatilho para analisar a beleza que é ter amor próprio diante de uma frustração.

Mudando de horário (e de novela) a quase comédia “Cheias de charme” tem algumas reflexões para provocar. Ou alguém duvida de que as lições de honestidade e lealdade apresentadas pela personagem Penha devam ser aproveitadas e seguidas? Primeiramente, porque a moça é honesta com ela mesma, conquista que só realizam aquelas pessoas maduras que sabem que “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira” (Legião urbana). Depois, porque ela vivencia essa honestidade. Aplica o conceito na prática, traduzindo-o em atitudes coerentes com seu discurso. Além de Penha, há algumas sutilezas dignas de nota nessa novela. O conflito vivido por Rosário: amizade x carreira. O desperdício de talento e de energia da cantora Chayene, que se dedica a prejudicar na carreira de suas “rivais” ao invés de investir em sua própria (aliás, que interpretação primorosa a de Claudia Abreu!). A capacidade de dissimulação de Socorro. A subserviência de Laércio. E muitas outras.

Em Gabriela, há lições históricas acerca do papel da mulher na sociedade e os avanços conquistados por ela ao longo do tempo. Além disso, é possível ter um olhar mais crítico para os nossos políticos a partir da história. Salve, Jorge Amado!

E Avenida Brasil? A meu ver, esta chama atenção pela patologia. E não é patológico alguém dedicar uma vida inteira a uma vingança? Além de Nina, há muitos personagens visivelmente desequilibrados. Há muita falta de caráter. Ali há um “mix” daquilo que fragiliza o ser humano e que o faz adoecer.

Novelas. Novelas. E mais novelas. Falei de cinco delas. Nosso país é assim. A emissora com maior popularidade exibe, se não perdi as contas, quatro novelas depois das 18:00h. Outra dedicada aos jovens perto das 17:00h. E um repeteco no meio da tarde. É uma concorrência desleal com os programas informativos e educativos. De alguma maneira, tal programação influencia aqueles que as assistem. Certamente, não é possível ignorá-la.

domingo, 18 de março de 2012

Negação

Os bem-te-vis
estão cantando:
bem-te-vi
bem-te-vi
e eu, triste,
não te vejo.
(27/08/2004)

sábado, 21 de janeiro de 2012

Declarações de Amor?

É fato que todo mundo gosta de ouvir declarações de amor ou de receber gestos entendidos como tais. Sendo assim, entre flores e “eu te amo” seguem-se suspiros e abre-se a porta para o mundo dos sonhos, mas basta falar?
Todo mundo quer ser amado. E o conceito de ser amado quase sempre está ligado ao de grau de importância que se tem na vida de alguém. Quase todos querem ser únicos, especiais para outra pessoa. Bem como querem receber demonstrações de afeto que sejam dadas só para si. Em alguma instância, estando em um relacionamento, todo mundo quer sentir-se dentre as prioridades do ser amado. Para que estas sensações sejam experimentadas, no entanto, palavras por si só não bastam. Gestos declarativos de afeto, quer sejam estes flores ou presentes também não. Para que façam sentido declarações de Amor e gestos declarativos desse sentimento precisam ter alma.
Quantas pessoas se esmeram na escolha das palavras e dos presentes na tentativa, não de demonstrar o que sentem, mas de convencer o outro de que o amam e se esquecem das declarações de não-amor? Sim, tais declarações existem e permeiam os relacionamentos humanos. São atitudes, palavras e decisões que não combinam com o Amor.
Se o amado (o ser amado) diz e repete: “eu te amo”, mas nunca tem tempo para você, haverá um momento em que essas palavras soarão vazias e que perderão o sentido. Se ele vive dizendo que você é importante pra ele, mas você nunca faz parte de sua lista de prioridades, chegará a hora em que não levará mais fé nisso. Se ele cobre você de mimos, mas não economiza nas palavras ásperas e rudes também, não existirá um momento em que aquelas delicadezas perderão a cor e o brilho?  Ou ainda, se esses mimos e atenções são para você e para a torcida do Brasil em peso, isso não fica banalizado? E pode haver declaração de não-amor mais efetiva do que balizar uma relação exclusivamente segundo seus próprios interesses?
Há inúmeras maneiras de fazer declarações de não-amor para alguém. Saber seu ponto fraco e meter o dedo na ferida é uma delas. Outra bem eficiente é minar sua autoestima. Esta, além de uma baita declaração de não-amor, é um descomunal tiro no pé. Picuinhas em geral soam como maneiras de dizer não te amo. Picuinhas são aquelas “espetadinhas” absolutamente desnecessárias que vão, aos poucos, dessaborizando o relacionamento.
Particularmente, penso que se deve tomar bastante cuidado com a relação nos momentos de brigas e conflitos. Todos podem e devem discordar em algum momento. É saudável, mas a maneira como se faz isso pode fazer toda a diferença. Todos podem e devem reivindicar aquilo que querem, que acham certo. Mas tentar impor seu ponto de vista e mais, fazer isso sempre, é declarar não-amor na certa. É preciso ter cuidado com quem se ama até nos momentos em que esse alguém o aborrece. É muito fácil ser gentil e delicado quando tudo vai bem. Quando há tensão, não se deve cuidar para que prevaleça o respeito?
“Nem vem que não tem” há muito mais do que palavras, flores e chocolates a considerar para que se acredite efetivamente em declarações de Amor. Entre as palavras e as atitudes é preciso haver coerência. Afinal, às vezes diz-se muito mais através daquilo que não se fala do que daquilo que se declara.