quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O tempo não para


Quando a gente se dá conta de que a vida é breve, em geral, está chegando à idade madura. Na ânsia de tentar dividir essa constatação com os mais jovens, muitas vezes nos esquecemos do óbvio: cada um tem o seu 'timing' e aproveita a vida de acordo com a compreensão que dela tem no momento.

Eu, por exemplo, precisei passar dos 50 para sentir que a expressão 'o tempo voa' está muito longe de ser uma metáfora. O tempo tem asas grandes e potentes.

Notei isso de repente. A sensação que tenho é a de que uma noite dormi aos 40 e, no dia seguinte, pimba! Acordei com 5.2 e me dei conta de que, pelo menos, mais da metade do caminho já havia sido percorrida.

Na última década, o que não faltou foi coisa acontecendo o tempo todo com maior e menor intensidade comigo, com o Brasil, com a humanidade e com o planeta. Isso só faz aumentar a sensação de que vivemos em alta velocidade.

Aos 5.2, vivi para ver uma pandemia esvaziar as avenidas do mundo, a ciência  revolucionar a medicina algumas vezes e algumas guerras tornarem suspenso o sono dos inocentes.

Vivi a última década com alguma alegria e muito espanto. O correr da vida muitas vezes me pegou em cheio e o que mais cobrou de mim foi coragem. Rosa estava certo.

Vivendo em um mundo intranquilo, com a natureza cobrando a conta pela devastação sofrida nos últimos tempos, o retrocesso pairando sobre as nossas cabeças em quase todos os continentes, a fome pedindo passagem, agarro-me às simplicidades possíveis para tentar o equilíbrio num tempo que, vamos combinar, já era pra ser bem melhor.

Tudo é tempo.

Felizmente a maturidade é  algo que nos  recompensa pelo tempo passado. Amadurecer é o que torna o caminho do envelhecimento mais bonito, digno e significativo.

Às vezes penso que a pandemia tornou nossas ampulhetas particulares mais visíveis e táteis e fez brotar ao nosso redor mais e mais discursos que salientam a brevidade da vida. Sem angústia. Sem dor. Mas com o sentido de que é preciso aproveitá-la com sabedoria.

2023 acabou há pouco. Outro dia era novembro  e peguei o celular para escrever para a amiga que completava 81 anos e ela, com certa graça, sentenciou: "aquela história do parece que foi ontem é real" e completou: “se chegar aos 90, vai ter festa”. Estou convidada.

Hoje vai terminando fevereiro. O novo ano já tem dois meses. Foi-se o reveillon, passou o Carnaval. As férias estão acabando. Faltam ⅚ de 2024 para tecer a vida com trabalho, garra, poesia, esperança e amor.

Feliz Ano Novo!.

📷 Pixabay