Rasguem os versos! Abaixo os poemas! Fora o lirismo! Sucumbam as rimas! Que nunca mais haja decassílabos sejam eles sáficos ou heróicos. Extintos sejam alexandrinos clássicos! Que a vida impera exigindo passagem e não tem paciência para eufemísticas firulas. O sangue corre inquieto nas veias. Desejo de gritar latejando nas entranhas. Pulsa. Ferve. Bate. Queima. Arde. Aquece. Dói e felicita. É ela! É ela!
Diálogo que impulsiona mudanças. Conversas que mudam destinos. Palavras que marcam encontros. Promessas cumpridas. Troca de olhares. Cúmplice cumprimentar de pupilas. Reconhecer imediato: olhos de esperança. Mudança do ritmo cardíaco. Leve ofegar de surpresa. Desassossegada troca de mimos. Olhos, mãos, braços, corpos e mentes unidos em pensamento único: - será?
Receios. Dúvidas. Temores: olhos de perguntas. Respostas dadas ou consentidas. Verbalizadas. Subentendidas. Sentidas. Permitidos gestos se fazem. Outros, contidos, silenciam. Mãos que se encontram, se tocam: trocam. Avançam. Hesitam. Experimentam. Despertam. Ousam e aproximam.
Olhos conversam. Mãos dialogam. Aquiescentes bocas se entregam, se descobrem, se querem, repetem. Outra vez. Olhos se falam, mãos se entrelaçam, mútuo abandonar de bocas intranqüilas. E recomeço. Ininterrupto processo de querer. Prosseguem. Dança de corpos que se estudam e se desejam. Delicioso descobrir de almas.
O que falam esses olhos que se beijam? O que observam essas mãos que se entreolham com o requinte da minúcia? O que lêem essas bocas tateantes?
Paixão é mesmo estouro de boiada. Espetáculo incontrolável. Beleza de se ver, respeitar e de temer. Delírio. Irrompe ao estampido de um gatilho qualquer, atropelando aos galopes as emoções contidas. Fascínio. Volúpia. Alucinação. Beijo entorpecido de contentamento desmedido.
Inútil tentar domá-la. Risco deixá-la correr sem destino pelas veias, vasos e artérias.
Falta inevitável de ar aos pulmões. Bate-que-não-bate-trotantes no peito. Barulho desatinado. Canção inaudível aos não envolvidos. Mistura de prazer e euforia.
Paixão vem e passa, e quando vai, se não deixa o Amor, deixa um vazio imensurável em seu lugar. Vazio! Eis uma das razões do medo (outra é justamente o entorpecimento da razão). Por isso muitos a evitam, desviam. Ocorre que diante de tal sentimento, qualquer coisa menor parece um arremedo. Vida: iminente risco de sentir! Paixão: vento indomável que expõe a um redemoinhar constante. É necessário ter coragem para viver. Para apaixonar-se é imperativo ser intrépido. Paixão, felicidade intensa e momentânea. Ela jamais se dá, somente se apresenta, fundamental é conquistá-la.
Inebriante. Coexistente confundir de sensações. Frio no corpo. Alma abrasadora. Lancinantes carícias de deleites vários. Mistura de saber e ignorar. Mescla de doer e bem-estar. Vulnerabilidade. Pés fora do chão. Cérebros suspensos, anestesiados, em intensa névoa de prazer e incertezas.
Converter a paixão em felicidade é uma arte. Experimentar essa felicidade: um desafio de todos aqueles que querem passar por esse mundo fazendo-a habitar em si mesmos. Deixar verdadeiras heranças de vivência. Ninguém flerta com a paixão impunemente. Ninguém que a conquiste olha em seus olhos e não encontra seu próprio reflexo estampado em suas íris. Mas se fasciná-la exige certo tato, redobrada atenção carecerá se a felicidade for comum objetivo de um par. Harmonizar um encantá-la a quatro mãos é bem difícil, todavia se ela acede aos duplos-unânimes apelos, recompensador. Será perfeito apadrinhar de escolhas, gloriosa bênção de desejos. Ela generosamente se converterá em dádiva. Será transfigurada em Amor.
Paixão: Um par de asas que nos leva ao mais alto dos ceús e nos fazem descer lá de cima sem rede de proteção.
ResponderExcluirQuando na queda a gente não se machucar a paixão de fato se transfigurou em amor.
Amor com paixão = Tudo de bom!
Seu texto nos submete a uma grande reflexão sobre o tema paixão, de forma inteligente, criativa e consistente. Coisas de Marise, coisas de quem já viveu uma grande paixão.
PARABENS!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Obrigada!
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