domingo, 5 de junho de 2011

Vidência

Foto disponível no Pixabay
Algumas pessoas, ao que parece, têm o poder de antecipar o futuro. Claramente, o conceito de vidência é um tanto mais amplo do que essa capacidade. Recorrendo  a Koogan/Houaiss: “vidência – dom sobrenatural (que se atribui a certas pessoas) de ver o passado, o futuro, objetos ausentes ou inexistentes, etc.”

Dependendo da ótica sob a qual for analisada a palavra, vidência terá um sentido ainda mais amplo do que aquele expresso nos dicionários.

Muito longe da ponderação de que essa capacidade realmente exista ou não, isso não vem ao caso, pensar um pouquinho (bem pouquinho) nos efeitos ou na necessidade desse tipo de revelação  é o se propõe aqui.

Muita gente, pelos mais variados motivos, inquieta-se com o futuro. Há quem busque a adivinhação porque precisa da sensação de controle absoluto de sua vida. Controle absoluto?! Ninguém o tem, mas é muito difícil admitir. Não há controle remoto universal que dê conta de comandar os acontecimentos da vida de quem quer que seja. Há quem tenha medo do amanhã e, desse modo, acredita que uma antecipaçãozinha básica aqui e acolá pode acalmar as ansiedades. Esquece-se de que pode deixá-las mais nervosas também. Há quem busque a certeza de que seu maior desejo será realizado algum dia. Será?! Não será? As dúvidas não são molas propulsoras de movimentos? Não têm a sua função? Enfim, as razões para a busca das respostas futuras são muitas e, estou certa, psicólogos e psiquiatras fariam com facilidade um rol enorme dessas razões e objetivos.

A “pergunta que não quer calar”: quais os impactos que uma revelação do futuro pode desencadear na vida de uma pessoa? Partindo de uma lógica simples, pode-se pensar que, se as indicações forem positivas, haverão de impulsionar positivamente a vida do sujeito. Entretanto, se as coisas não forem tão positivas assim ou forem mesmo revelações bombásticas, isso pode prejudicar a vida do “curioso”. E o vidente? O vidente pode prever que transtornos ou benefícios terão essas notícias na vida do cidadão que o procura? Se pode, no caso de efeitos negativos, por que revela? Se não pode, por que o faz?

Não é raro ouvir relatos de que não é possível modificar essas “profecias”. Sendo assim, qual será o objetivo de “profetizá-las” a não ser a tortura psicológica do “curioso”? Uma vaidade? Excetuem-se aqui os casos clássicos de charlatanismo, que esses têm objetivos muito claros. Perdoem-me o paradoxo. 

A verdade é que, por acreditarem que alguém pode prever o futuro, muitos se matam porque o mundo vai acabar em tal dia como disse tal pessoa. Outros mudam suas vidas, transferem-se de estado, de cidade, de país. Muitos entram em pânico, outros paralisam, congelam. Outros pautam as suas decisões nessas visões, ficam reféns delas. Vivem com uma sombra, um fantasma ou uma dependência.

Uma coisa é certa, quem se antecipou às catástrofes profetizadas e procurou o abismo antes mesmo de pagar pra ver se elas se concretizariam ou não, não está mais aqui para saber o que foi mesmo que aconteceu. Tentar descortinar o futuro pode paralisar o presente, pode doer e atordoar. Assim, é necessário saber, antes de procurar um vidente, que os efeitos desse encontro podem não ser exatamente tão inofensivos assim.

Para as incertezas da vida, viver é o melhor remédio.












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