domingo, 17 de julho de 2016

Ilusões e desventura

De todas as tragédias humanas, aquela que considero mais impressionante é alguém perder-se de si mesmo. A sucessão de escolhas mal feitas, a má sorte e a crença em ilusões para a tomada de decisões são maneiras eficientes de atingir esse destino.
A perda de uma ilusão pode, muitas vezes, nos mostrar o quanto a vida pode ser dura. É aí, nesse ponto nevrálgico da existência humana que o longa “Estive em Lisboa e lembrei de você” faz sua arte.

O filme é uma porta aberta para o território das reflexões e aborda delicadamente a profundidade de uma vida triste. Trata-se de um escrutínio do papel importante e definitivo que cada uma de nossas escolhas desempenha em nossas vidas.

Não é possível dizer que se consegue sair do cinema sem algum grau de aflição. Durante a projeção fica-se o tempo todo com o coração inquieto a espera de um desfecho trágico e clichê, o que não acontece. A tragédia existe, no entanto é exposta não pelo desespero, mas por sua afinidade com a realidade. É a proximidade com o real que nos arranca a tranquilidade e que nos põe a pensar.

Todo mundo conhece um Serginho. Um cara que tinha uma vida toda pela frente e que de repente, sem mais nem meio mais, enfrenta a explosiva combinação de uma sorte ruim com conselhos desacertados e escolhas mal feitas.

Todo mundo conhece alguém que se perdeu, que se afastou de si próprio nas asas de uma ilusão. Todo mundo já fez escolhas mal feitas. Todos se sentem, em alguma medida, vulneráveis diante da história do mineiro Sérgio.

Pouco a pouco, cena após cena, vamos descortinando uma certeza que todos nós temos e que, no entanto, não queremos admitir: o mundo não é lugar para os ingênuos e tampouco perdoa os incautos.

A perda das raízes, do sentido de viver é o ponto alto do longa metragem. A trama aborda ainda outros pontos importantes, como a inabilidade de alguns profissionais de saúde mental em lidar com um surto psicótico, a importância de amizades verdadeiras, sobretudo quando se está em terra estrangeira, a superação e a sucumbência aos vícios, tais como o cigarro e a bebida alcoólica, a vulnerabilidade a que a paixão nos expõe.


“Estive em Lisboa e lembrei de você” é uma produção para aqueles que gostam de análises profundas e que estão preparados para sair do cinema com a sensação de terem levado um certeiro e desconcertante soco no estômago. 

3 comentários:

  1. Tema interessantíssimo relacionado ao nosso cotidiano. Quem não conhece alguém que fez escolhas erradas? Porém taís situacoes levam, geralmente, ao julgamento e não à reflexão. Vou assistir. Bjuuussssss

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    1. Olá, Inês!
      Acho que vai gostar do filme por dois motivos: você gosta de temáticas complexas e acabou de voltar de Lisboa. Vale a pena conferir.
      Beijo grande.

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  2. Tema interessantíssimo relacionado ao nosso cotidiano. Quem não conhece alguém que fez escolhas erradas? Porém taís situacoes levam, geralmente, ao julgamento e não à reflexão. Vou assistir. Bjuuussssss

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