Sou do tipo de pessoa que analisa letra de música. Canto e penso no sentido daquilo que estou cantando. Não importa quem seja o compositor ou qual seja o ritmo, invariavelmente, se me leva a cantar, penso. Dia desses me peguei cantarolando uma música do “Titãs”: “porque eu sei que é amor eu não peço nada em troca...” Cantei e continuei cantando. Repetindo as frases. Analisando. Há coisas ditas nessa canção com as quais concordo, mas embatuquei nessa frase. Como não?! Porque eu sei que é Amor é que eu posso até não pedir assim rasgadamente, mas espero muito em troca. Aliás, porque eu sei que é Amor é que nem penso em pedir, pois a troca é pressuposta. Afinal, que graça há no Amor se não houver troca? Porque eu sei que é Amor eu espero Amor em troca.
Amor é coisa séria. É sentimento grave. Fortalece e fragiliza. Há coisa mais inquietante do que amar alguém e não ter certeza do que é mesmo que ele sente por você? Inquietante?! Inquietante uma vírgula, um travessão, aspas, uma interrogação. Nesses casos o que há é uma enorme angústia. Um desassossego. A sensação exata de estar na corda bamba e sem sombrinha. Sente-se um bêbado procurando equilíbrio em meio à sensação de torpor. Em contrapartida, há sensação mais agradável do que saber-se verdadeiramente o Amor do seu Amor? Ser o Amor do seu Amor é beijar o sublime. É mérito enorme, visto que é conquista. E muito mais que isso é dádiva. É presente.
Pedir em troca, esperar em troca. Deve-se pedir do Amor somente aquilo que se é capaz de lhe dar. Do contrário a balança desequilibra. O pedido pesa para um dos lados. Deve-se ser justo com o Amor. Olha aí outro verso da composição: “E eu peço somente o que eu puder dar” (Veja bem: quem foi que falou que não pedia nada em troca mesmo?!).
É preciso diferenciar pedir/esperar de cobrar. Não se deve cobrar do Amor. O Amor dá. Doa-se. Entrega-se. É um movimento natural: dar e receber o Amor. Entretanto, é prudente conhecer a natureza do Amor para saber o que dele esperar. Ele dá o que tem, o que é. Não há que esperar colher figos em uma plantação de maçãs.
É preciso diferenciar pedir/esperar de cobrar. Não se deve cobrar do Amor. O Amor dá. Doa-se. Entrega-se. É um movimento natural: dar e receber o Amor. Entretanto, é prudente conhecer a natureza do Amor para saber o que dele esperar. Ele dá o que tem, o que é. Não há que esperar colher figos em uma plantação de maçãs.
Necessário é esclarecer que pedir/esperar em troca não significa barganhar. Amor não aceita barganha. Há que ser uma espera lícita. O Amor atrai o Amor. O Amor gera Amor.
O Amor sabe das coisas. Sabe conquistar a cada dia, porque sabe renovar. Sabe valorizar. Sabe compreender. Sabe os seus limites. Sabe de si e sabe do seu par. Sabe porque está atento ao outro. O Amor conhece o outro. O Amor enxerga o outro. Não com o intuito de usar seus pontos fracos como forma de atingi-lo, de fazer uso de suas vulnerabilidades em causa própria. Sabe do outro para somar, para fortalecer, para amparar, para falar, para dividir, para silenciar, para respeitar. No entanto, há que se esclarecer que Amor não vem com bola de cristal a ele acoplado como se fosse um acessório de fábrica. É preciso sinalizar pro Amor. Mostrar a ele como se sente na relação. É fundamental dialogar com o Amor. Amor sabe das coisas, mas não é vidente. É essencial observar a diferença entre cobrar e sinalizar. Sinalizar é estabelecer um diálogo franco e amoroso com o Amor. Colocar-se e dar-lhe igual oportunidade de se colocar. Sinalizar não é fazer um julgamento do Amor. Não se vira para o Amor com ar de quem sacou uma arma e aponta para ele em tom de “mão na cabeça e documento!”. Carece não julgar o Amor. É preciso ouvir o Amor. Ouvi-lo de coração e com um coração generoso.
O Amor preserva. O Amor ali pra valer mesmo sabe a exata medida da distância e da proximidade. Sabe que saudade é bom, mas que distância com gosto de ausência é sinônimo de sofrimento. E sofrimento é ruim. É possível estar fisicamente longe e estar perto do Amor, como também estar fisicamente perto e estar longe do Amor. Quando duplamente perto o Amor está em festa.
Amor dá trabalho. Quem pensa que Amor é fácil, que é coisa à toa engana-se em larga escala. Não se pode ser displicente com o Amor. É preciso renovar o Amor. Cultivar o Amor. Cuidar do Amor, que sem cuidados, o Amor se esvai, se vai, se parte, se ressente. Transfigura-se. Há Amor por aí se transfigurando em muitos outros sentimentos: amizade, mágoa, carinho, rancor, bem-querer, indiferença. Indiferença é quando o Amor se perde. É possível um Amor se perder. Muitos se perdem. Perdem-se pelas mais variadas circunstâncias e atitudes: fatalidades, negligência, imaturidade, incompreensão, desencontro, desencanto, despreparo... mas quem é que quer perder o Amor? E mais, quem desejará perder-se do Amor? Amor dá trabalho, como já disse, no entanto é prazeroso laborar o Amor. Amor vale a pena.
Porque eu sei que é Amor, realmente não peço nem uma prova. O que eu não peço, todavia espero são atitudes. Atitudes coerentes com Amar, atitudes coerentes com Amor. Carinho combina com amor. Compreender condiz com Amor. Chamego combina também. Atenção lhe cai como uma luva. Solicitude casa direitinho com Amor. Presença combina com Amor. Lealdade afina com Amor. Respeito é o par perfeito do Amor. E falo de respeito no sentido amplo: respeito ao ser humano que cada um é.
“Porque eu sei que Amor, sei que cada palavra importa”. Verdade. Importa. Porque eu sei que é Amor é preciso que haja coerência entre o discurso e as atitudes. Se não há é falácia. E se é falácia, eu sei que não é Amor. E se eu sei que não é Amor, não há o que o meu Amor possa pedir, muito menos o que possa esperar. Bem, mas se não é Amor, também não é nesse texto que cabe estar.
Voltando aos versos que tanto me fizeram pensar procuro melhor ponderação, arrisco-me a compreender a frase da cantiga de outra maneira. Primeiro uma consideração: esperar alguma coisa de alguém é como fazer a ela um pedido de que só você mesmo sabe, mas que esse alguém intui o teor. Esperar de alguém é pedir em segredo. Se espero, peço veladamente. Pedir é explícito. Esperar é implícito. Agora ouso usar as considerações de um amigo para quem uma dupla negação é uma ampla afirmação. Logo, se não peço nada, certamente, é porque peço tudo: Amor. Não será essa uma boa interpretação?
Porque eu sei que é Amor, espero tudo que com ele combina. E quem, ainda que saiba que é Amor, não espera, que atire a primeira pedra.
Foto:
https://pixabay.com/pt/amor-praia-mar-areia-rom%C3%A2ntico-226756/
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Falou tudo obrigada pelo presente
ResponderExcluirSempre é bom poder presentear alguém com uma crônica.🌷
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