segunda-feira, 23 de abril de 2018

Leitora crônica

Foto disponível no Pixabay

Há uns caras que falam direitinho no ouvido que a gente escuta, têm conexão direta com o nosso entendimento, com a nossa maneira de enxergar o mundo e, sobretudo, com o nosso jeito de sentir a vida. Aquilo que eles, muito mais do que outros, falam faz sentido imediato pra gente. Cada um tem esse ou aquele escritor que é especialista em dar um plazinho, que fica reverberando horas, dias, meses, vida afora, no pé da sua orelha.

Para mim, alguns a quem costumo chamar de preferidos, estão nessa onda aí. Eles escrevem ou falam lá do seu jeito e plim, tocam o sininho da afinidade aqui dentro. Martha Medeiros é uma dessas. Pois é, acabo de saborear Felicidade crônica e a autora me deixou com gostinho de quero mais. Não só da série de “livros crônicos”, que são três: Felicidade crônica, Paixão crônica e Liberdade crônica, mas de quero mais vida também. Mais vida, mais viagem, mais música, mais cinema, mais visão desencanada dessa nossa passagem por aqui e o que é fundamental: mais leveza.

Felicidade crônica é dividido em quatro seções instigantes para quem quer seguir os dias praticando o deboísmo, sem perder a noção da realidade: Curtir a vida, Amor-próprio, Família e outros afetos, e Viagens e andanças. Em cada uma das partes há textos apetitosos que fazem você parar para pensar e sentir uma deliciosa e saudável vontade de descomplicar sua própria existência. De ficar de boas com a vida e aproveitar melhor sua estada no Planeta.

Daqui de onde estou em minha caminhada, avalio que são crônicas fundamentais desse trabalho: Muito barulho por tudo, O que acontece no meio, O mundo não é maternal, Órfãos adultos, Feliz por nada, Falhas e A capacidade de se encantar. Ah, sim! Ainda há os textos da categoria imperdíveis: Admitir o fracasso e Carta a João Pedro estão nessa daí. Nesse último, a autora escreve uma amorosa carta a seu sobrinho recém-chegado e descreve amorosamente para ele o que é a vida, fala sobre alguns aspectos do Brasil e, ainda, lhe diz como levar a vida leve. Fala sério, quem não queria ter uma tia dessas e receber tais dicas logo na primeira infância! O fato é que ela fala pra ele, mas escreve para a gente, e todos saem no lucro, independente da idade que tenham.

Martha é o tipo de escritora que, não raro, costuma me encantar até quando divergimos essencialmente sobre algum assunto. É o acontece em Feliz por nada, por exemplo. Para ela, autoconhecimento não é algo essencial para alcançar a felicidade, para mim é indispensável. E nem por isso deixei de adorar e compartilhar o texto. Ou alguém acha que dá para resistir à frase: “Você é o que é, um imperfeito bem intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.”

Não sei se acontece com vocês, mas pra mim tem sido um desafio enorme ler um romance do início ao fim. Os estudos, o trabalho, as tarefas, a leitura do noticiário, o dia a dia, tudo concorre para transformar meu tempo para a leitura de romances numa aventura épica. Desse modo, tenho me dedicado ainda mais à leitura de contos, crônicas e poemas, textos mais curtos e nem por isso menos densos (caso comum na poesia, por exemplo) ou menos ricos. O que não consigo mesmo é ficar sem ter um bom livro como companhia. Bons textos invariavelmente me fazem crescer e gosto disso sobremaneira.

Sempre gostei de crônicas, mas nesse momento, elas estão ainda mais presentes na minha vida e Martha Medeiros tem sido companheira constante nessa jornada. Nunca é demais lembrar que a escritora está com um trabalho novinho em folha na praça: Quem diria que viver ia dar nisso, uma seleção de mais de 100 crônicas para apreciar e sorver. Quanto a mim, acabo de ganhar Liberdade crônica, um delicioso presente de Páscoa, que já comecei a degustar.

Ler é, sem dúvida, encontrar as chaves de cadeados, se libertar.

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Um pouco de Martha Medeiros:
Feliz por nada