"Eu, Judas Iscariotes,
sou o bode expiatório
eternamente abandonado no deserto.
Depositário de todas as culpas.
Não apenas de meu povo,
mas de toda a humanidade."
(Trecho da peça)
(Trecho da peça)
Foto disponível na fanpage do Theatro D. Pedro |
Criado e interpretado por Carlos Vereza, o espetáculo é livremente inspirado no Evangelho Apócrifo de Judas Iscariotes e é fruto de três anos de intensa pesquisa do ator.
A atuação de Vereza é primorosa e, com vigor e sensibilidade, nos conduz o tempo todo à emoção e à reflexão, vezes fazendo um link com as maldades humanas na atualidade.
Há que se destacar as projeções e os efeitos de som, que nos ambientam nas cenas nos fazendo experimentar a realidade representada no palco. A conexão entre as imagens, efeitos sonoros e a realidade que se quer retratar é perturbadora.
Olhar para Judas sob uma ótica mais humanizada, participar de alguns de seus momentos de crise existencial é uma proposta ousada, mas que, sem dúvida, promove o exercício tão necessário de ouvir a outra parte.
A polêmica fica por conta de, nessa leitura, Judas ser apresentado como o apóstolo preferido de Jesus.
Vale a pena conferir.
Judas, o fiel amigo de Jesus
ResponderExcluirNão desacredito e nem acredito convictamente em “escrituras sagradas”. Penso que todas – bíblia , alcorão ,Bagavadguitá, etc – são importantes livros históricos, ferramentas para crescimento espiritual e pessoal. O que leva ao fanatismo é crer convictamente que somente uma delas é portadora da “verdade absoluta”. Por isso o caos no mundo, guerras em nome de uma religião, todos querem impor a sua verdade como única e suprema. Loucura não acha?
Quem escreveu a bíblia não foi Deus, quem escreveu o alcorão não foi Alá. Todas as escrituras foram escritas por discípulos, pessoas comuns como você e eu. Quem nos garante que eles descreveram da forma correta determinado fato? Quem nos garante que eles não faltaram com a verdade? Quem nos garante que por pressão da sociedade – não diferente da de hoje – dados não foram maquiados, retirados, colocados com a intenção de garantir o interesse dos que estavam (estão) no poder?
Depois de toda essa reflexão, pensemos em Judas. Se realmente Jesus foi um "ser superdotado", com poderes, ele já sabia o que lhe aconteceria, certo? Judas então seria parte do “plano”, teria ele executado a mais difícil missão dos discípulos, no entanto que o conflito interno – não o diabo – fez com que ele comete-se suicídio. Você não pensa que estigmatizar ele, como a maioria de nós faz no ocidente até hoje, não seria um tanto quanto injusto?
Olá, Emanuel!
ResponderExcluirObrigada pela leitura e pela reflexão.
Acho injusto, sim. Mesmo porque não nos cabe julgar e sentenciar Judas. Isso caberia à divindade. Acho ruim que dois mil anos depois ainda apontemos todos os nossos para Judas e que esqueçamos que cada um daqueles que gritou "Crucifica-o!", tem sua quota de participação na condenação de Jesus, bem como quem lavou suas mãos etc. Na peça, Judas é apontado como o bode expiatório, leva sozinho todas as culpas do mundo. É uma peça instigante, emocionante e que propõe uma enormidade de reflexões.
Grande abraço.