domingo, 23 de abril de 2017

Sobre "Iscariotes. A outra face."

"Eu, Judas Iscariotes,
 sou o bode expiatório
 eternamente abandonado no deserto.
 Depositário de todas as culpas.
 Não apenas de meu povo, 
mas de toda a humanidade."
(Trecho da peça)


Foto disponível na fanpage
do Theatro D. Pedro
E sexta-feira passada, 21/04, foi dia de assistir à estreia nacional do monólogo: "Iscariotes. A outra face." Estreia nacional aqui em Petrópolis?! Exatamente! Que coisa boa, não?! Assistir a uma estreia no Theatro D. Pedro foi, verdadeiramente, um privilégio. 

Criado e interpretado por Carlos Vereza, o espetáculo é livremente inspirado no Evangelho Apócrifo de Judas Iscariotes e é fruto de três anos de intensa pesquisa do ator.

O texto, denso, rico e emocionante, convida-nos a olhar a História pela perspectiva daquele apóstolo e, em uma linha próxima da que propõe a Doutrina Espírita, a ter um olhar misericordioso com o atormentado homem que entregou Jesus aos membros do Sinédrio e aos soldados romanos. Além de trazer fatos históricos narrados nos evangelhos.

A atuação de Vereza é primorosa e, com vigor e sensibilidade, nos conduz o tempo todo à emoção e à reflexão, vezes fazendo um link com as maldades humanas na atualidade.

Há que se destacar as projeções e os efeitos de som, que nos ambientam nas cenas nos fazendo experimentar a realidade representada no palco. A conexão entre as imagens, efeitos sonoros e a realidade que se quer retratar é perturbadora. 

Olhar para Judas sob uma ótica mais humanizada, participar de alguns de seus momentos de crise existencial é uma proposta ousada, mas que, sem dúvida, promove o exercício tão necessário de ouvir a outra parte. 

A polêmica fica por conta de, nessa leitura, Judas ser apresentado como o apóstolo preferido de Jesus.

Vale a pena conferir.


2 comentários:

  1. Judas, o fiel amigo de Jesus
    Não desacredito e nem acredito convictamente em “escrituras sagradas”. Penso que todas – bíblia , alcorão ,Bagavadguitá, etc – são importantes livros históricos, ferramentas para crescimento espiritual e pessoal. O que leva ao fanatismo é crer convictamente que somente uma delas é portadora da “verdade absoluta”. Por isso o caos no mundo, guerras em nome de uma religião, todos querem impor a sua verdade como única e suprema. Loucura não acha?
    Quem escreveu a bíblia não foi Deus, quem escreveu o alcorão não foi Alá. Todas as escrituras foram escritas por discípulos, pessoas comuns como você e eu. Quem nos garante que eles descreveram da forma correta determinado fato? Quem nos garante que eles não faltaram com a verdade? Quem nos garante que por pressão da sociedade – não diferente da de hoje – dados não foram maquiados, retirados, colocados com a intenção de garantir o interesse dos que estavam (estão) no poder?
    Depois de toda essa reflexão, pensemos em Judas. Se realmente Jesus foi um "ser superdotado", com poderes, ele já sabia o que lhe aconteceria, certo? Judas então seria parte do “plano”, teria ele executado a mais difícil missão dos discípulos, no entanto que o conflito interno – não o diabo – fez com que ele comete-se suicídio. Você não pensa que estigmatizar ele, como a maioria de nós faz no ocidente até hoje, não seria um tanto quanto injusto?

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  2. Olá, Emanuel!
    Obrigada pela leitura e pela reflexão.
    Acho injusto, sim. Mesmo porque não nos cabe julgar e sentenciar Judas. Isso caberia à divindade. Acho ruim que dois mil anos depois ainda apontemos todos os nossos para Judas e que esqueçamos que cada um daqueles que gritou "Crucifica-o!", tem sua quota de participação na condenação de Jesus, bem como quem lavou suas mãos etc. Na peça, Judas é apontado como o bode expiatório, leva sozinho todas as culpas do mundo. É uma peça instigante, emocionante e que propõe uma enormidade de reflexões.
    Grande abraço.

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