Para Douglas e Antônio
pela arte de servir café
com tempero de carinho
com tempero de carinho
Torta de frutas secas - Sant`Anna Cafeteria |
Tudo corria do mesmo jeitinho:
cardápio, simpatia, pedido, café. Clientes comportados e falando baixinho, como
são os ambientes de cafeteria em geral. De repente, surge um menino. Ele,
acompanhado por pais e avó, trouxe um bocadinho de inquietação àquele lugar. O
pula que pula, a voz mais elevada, a brincadeira irreverente do pai com o
garoto. Levei um susto. Não é que o rapaz estourou o pacotinho plástico que vem
cuidadosamente embalando os talheres?! Ele mesmo se assustou quando se deu
conta do que fizera. Eu ri, mas confesso que agitação não era exatamente o que
eu estava procurando naquele lugar. Sou de silêncio e sons, ontem estava mais
para a segunda opção.
A estada do menino por ali foi
curta, como são próprias das paradas infantis em “lugares de adultos”, mas transformadora.
Eu disse que era pra ser só um café, mas não foi isso o que se deu. Na saída,
bem pertinho de mim, o garotinho deu de cara com uma vitrola. Foi um espanto. Ele
jamais havia visto coisa igual e tampouco sabia para o que servia. Curioso,
aproximou-se do objeto e crivou o pai de perguntas. O pai bem que tentava explicar na
teoria, no entanto não dava conta de satisfazer à curiosidade do filho. Um
pouco distante, o proprietário do estabelecimento observava tudo atentamente. Aproximou-se,
desligou o som e ligou o toca-discos para o pleno encantamento do menino. Pacientemente virou o
disco e mostrou que do outro lado tinha mais música, o menino silenciou entre a
surpresa e a maravilha. Recolheu a experiência, agradeceu e saiu dali levando
uma história pra contar.
Eu sorri, dessa vez, emocionada.
Havia presenciado um momento de fascínio e descoberta. Além disso, o sorriso
generoso do proprietário do café ao ter servido ao menino um tanto de fascínio denunciava a sua satisfação e me fazia lembrar de uma bela crônica
de Affonso Romano de Sant' Anna, que nos
fala exatamente que “cada um tem um momento, um gesto, um ato em se que
individualiza e brilha”. O moço tinha se iluminado ao encontrar o que tem de
mais próprio em si: o prazer de fazer o outro se sentir bem, confortável. A cena foi simples, mas me deixou
contemplar “o incêndio de cada um”: o menino colhendo frutos de sua curiosidade
e o rapaz extrapolando o ato de servir ao doar-se. Meu café terminou, pedi a conta, vim para
casa, mas a poesia daquele instante está presente fazendo eco até agora. Era
para ser só um café, mas foi beleza e testemunho dos fragmentos poéticos que a
vida nos dá.
É bonito ver alguém fazendo
aquilo de que gosta. O contentamento escapa-lhe pelos poros e nos atinge de alguma
maneira. Lembrei-me de um balconista da lanchonete da faculdade, seu nome era
Messias (eu me lembro e já faz 14 anos que deixei a universidade). O pão era o mesmo, as frutas também, mas
quando ele preparava o suco e o sanduíche, o sabor era diferente. O aprazimento no preparo agregava um tempero especial e inigualável. Há algo mágico que emana
daqueles que estão no lugar certo fazendo aquilo que gostam. No lugar que desejam
ocupar. A alegria deles nos contagia, vem conosco e nos faz mais ternos e
felizes também, a gente se sente mais vivo. A vida é também essa maravilhosa
mudança de roteiros. O fim da tarde de ontem era para ser só um café, mas foi
muito além disso e, uma vez mais, a cafeteria fez jus a seu slogan.
Confira também a crônica "O incêncio de cada um", de Affonso Romano de Sant´Anna:
https://www.facebook.com/estacaomarisebender/posts/1882150905435258
Cafeteria Sant'Anna, eu adoro.
Rua Dr. Paulo Hervé, 1139
Bingen
https://www.facebook.com/santannacafeteria/
Confira também a crônica "O incêncio de cada um", de Affonso Romano de Sant´Anna:
Cafeteria Sant'Anna, eu adoro.
Rua Dr. Paulo Hervé, 1139
Bingen
https://www.facebook.com/santannacafeteria/
Marise, você transformou o nosso ato de servir café nessa bela demonstração de carinho. Continue nos observando, risos. Eu amei este, que vai parar impresso em minha parede domiciliar. Obrigado pelo carinho e pelas visitas. Grande beijo, Antônio
ResponderExcluirAntônio.
ResponderExcluirCoisa boa saber que gostou e que ele vai pra bem pertinho de você. É sempre uma delícia ir à Cafeteria, bem como estar com vocês. Quanto a observá-los, tô de olho (risos muitos). eu que agradeço o carinho de sempre.
Beijo grande.