quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Batendo um fio

Faz algum tempo, tenho experimentado certos receios relacionados aos avanços tecnológicos de nossos dias. Um claro exemplo desse meu desconforto é o de telefonar para as pessoas.

Sou nativa de um tempo em que a função do telefone era somente fazer e atender a chamadas. Hoje, com as múltiplas funções do aparelho, os telefonemas recebem certas censuras, como se pudessem parecer (e ser) um tanto inadequadas.

Não é raro ouvir alguém dizendo que não atende ligações de números desconhecidos. A era dos números por engano foi abolida à revelia e não está fácil pra ninguém equilibrar os pratos e se posicionar diante das novas (e cada vez mais novas) etiquetas que seguem abrindo passagem.

Aliás, ligue para um número por engano e veja o que pode acontecer. Comigo ocorreu de eu ligar para o DDD errado e a moça do outro lado da linha passar uma tarde inteira me ligando para saber o que eu queria de fato falar com ela, suplicando que eu dissesse a verdade. Minhas frases incisivas dando conta de que fora um engano, não foram suficientes para convencê-la naquele dia e quiçá até hoje.

Outro dia, depois de uns vinte áudios trocados entre mim e uma amiga, tomei fôlego e perguntei:

- Você ainda fala ao telefone?

- Como assim? Que pergunta é essa?!

- De certo modo, as pessoas têm se dividido entre aquelas que falam ao telefone e aquelas que só mandam mensagens, não parece assim pra você?

- Ah! Sim! Nesse caso, sou do tipo que ainda faz e aceita telefonemas de bom grado, respondeu ela identificando os registrando os risos na mensagem escrita.

Passei a mão no telefone, busquei o contato e realizei a chamada fora do aplicativo de mensagens.

- Oi, amiga, tudo bem? Ela me perguntou imediatamente.

Nossa! Foi só ouvir a entonação da voz dela para me sentir mais perto. Sua voz forte chegou a mim como um elixir tonificante cheio de perfume e de cor, exalando energia boa e limpa.

- Estou ótima e você?

Á conversa progrediu e lá ficamos a falar do uso dos aplicativos de mensagens e da maneira que cada um faz deles. Como de costume entre nós e nossas conversas, logo vieram outros assuntos e brotaram livres gargalhadas de nossa conversa. Batemos um bom papo em tempo real. Telefonar foi uma ótima decisão, apesar de uma quase ousadia.

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