domingo, 21 de maio de 2017

Ainda sobre o Dia das Mães


Para Leonardo e Mamãe,
aqueles que me ensinaram e ensinam a
ser Mãe, com imensa gratidão.

Domingo passado foi dia de comemorar oficialmente o Dia das Mães. Por mais que algumas pessoas nos lembrem de que esta é uma data que tem um forte apelo comercial e que aquece o consumo, creio que cabe a cada um de nós limitar essa influência mercadológica em uma data tão especial. Definitivamente, podemos escolher como celebrar um dia como esses sem precisarmos aceder completamente ao deus mercado. Um presente pode ser bem-vindo, mas nem de longe tem que ser o fim. Dia das Mães é dia para celebrar o encontro (ainda que não possa ser físico), a gratidão e o afeto. Se não for assim, de que adianta presentear?


Já faz 22 anos que ganhei a maternidade de presente.  Ela veio forte, densa e enriquecedora com todos os ônus e bônus dela próprios. Ônus?! Muitos! Quem disse que é fácil ser mãe? Incerteza, insegurança, noites sem dormir, seios doloridos, medo do fracasso, choros (do bebê e da mãe, por conseguinte), dores, cólicas, fraldas, despesas, cansaço e medo. Um medo do tamanho de um bonde de não dar conta. Que mãe não passou ou não passa por isso? Tudo isso faz parte desse universo particular. A vida vira de ponta cabeça com a chegada de uma criança. Por mais planejada que seja, uma gravidez sempre tem cara, gosto e cheiro de surpresa. Ainda assim, não conheço uma só mãe, que tenha abraçado a maternidade, que troque esse reboliço todo por qualquer outra coisa na vida. Eu também não trocaria. Lembrei-me de uma música do Gonzaguinha: “começaria tudo outra vez, se preciso fosse, meu amor”. Começaria! Ah, se começaria!

Bem, mas eu também falei em bônus, não foi? Sim! Cada balbucio da criança é um presente, cada passo, cada gesto, cada nova atitude é sentida e celebrada. O filhote é capaz de nos despertar para detalhes antes imperceptíveis. A relação mãe e filho se constrói momento a momento, no dia a dia, e pode ser maravilhosa. É preciso ter em vista a construção de uma relação saudável.

É claro que sei que muitas mulheres não desejam ser mães pelos mais variados motivos, eu as entendo e as respeito, cada um sabe de si. Também sei que há mil e uma outras maneiras de se realizar nessa vida, essa está longe de ser a única. É muito importante ter esse entendimento.

No meu caso, a maternidade era um apelo desde muito cedo. Ela sempre fez parte dos meus planos e até das minhas brincadeiras infantis. Meu filho foi planejado e chegou trazendo luz à vida das nossas famílias. No entanto, nem tudo foi como o idealizado, a família feliz do comercial de margarina ruiu no meio da infância do pequeno e foi preciso reprogramar a rota. Não foi fácil, houve uma série de obstáculos a enfrentar, mas dentro do possível, as coisas foram se acertando e o menino foi crescendo. Ano passado, aquele bebê lindo, amado e desejado, que chegou prenunciando a primavera de 1995, completou 21 anos. Coisa emocionante olhar para o homem correto, honesto, amoroso e cheio de personalidade que ele se tornou.  Educar não é nada fácil, requer uma série de ponderações e de escolhas e a grande verdade é que a gente morre de medo de errar e que muitas vezes erra mesmo. Mas tudo o que não se quer é prejudicar um filho e olhar para o Leonardo e vê-lo um homem feito, cheio de bom senso e amorosidade, capaz de cuidar da sua própria vida, dá uma certa paz ao coração. A fase agora é outra, cheia de desafios e de aprendizados.  Nessa vida de ser mãe, a gente vai aprendendo durante o percurso e é preciso ter o coração sempre preparado para mudanças. Vida de mãe é dinamismo puro.

Tenho tido a oportunidade de acompanhar bem de pertinho a trajetória de alguns de meus amigos e primos nos primeiros anos da maternidade/paternidade. Como é gostoso vê-los vibrando com cada conquista de suas crianças! Vira e mexe pego-os surpresos com esse ou aquele traço da personalidade dos meninos ou irritados com esse ou aquele comportamento infantil. Muitas vezes, observando-os, revivo minha estrada com o Leo. É sempre muito gratificante ouvi-los falando de seus rebentos, partilhar de suas alegrias, dividir angústias.  Os pequeninos, por sua vez, vão me atualizando, vão mostrando o que é mesmo que interessa às crianças de hoje. São novos brinquedos, novos heróis, novos personagens infantis, novos gostos e novas cantigas. É lindo vê-los crescer, vê-los ganhando mais e mais autonomia. Cada vez que nos encontramos há sempre uma novidade. Aprendem rápido e causam espanto diariamente com a articulação de suas respostas, cada vez mais bem elaboradas. É uma meninada que me ensina sempre mais que “o tempo não para”. Que lição importante!

E por falar em lição e em maternidade, um dos presentes mais bacanas que a maternidade trouxe para mim, foi a proximidade com a minha mãe. Foi um melhor entendimento do mundo dela, das suas angústias, dos seus tropeços e acertos. Foi enxergá-la melhor como mulher. Não sei se com todo mundo funciona assim, mas aprender a ser mãe, me fez amadurecer como filha.

Falando em mãe, a minha é uma pessoa que tem uma coragem imensa diante da vida. Diante de todas as dificuldades propostas, a leveza e a alegria sempre foram/são suas marcas registradas. Ela é dessas que sempre escolhe sorrir, embora seja inevitável uma lágrima ou outra. Sente, sofre, chora como todo mundo, mas é de sua natureza buscar o lado mais iluminado da vida. Pra mim essa é uma proposta de aprendizado e tanto. Além disso, ela tem uma qualidade que admiro imensamente: a postura de julgar o menos possível. Tem uma conduta generosa que procura acolher e entender cada um como é, sem rotular. Mulher de fibra, firme, doce e terna.

Ternura. Está aí uma palavra que o Dia das Mães evoca. Independente do apelo comercial, é sempre importante ter um dia, um mês para celebrar, para comemorar, para vivenciar mais intensamente a importância e a força que essa presença tem e terá na vida da gente. Para exercitar e saborear a ternura e “dançar na chuva de vida que cai sobre nós”.


Trem bala
(Ana Vilela)




Obs: Em 23/05/17, acrescentei a dedicatória.

2 comentários:

  1. "Aprender a ser mãe, me fez amadurecer como filha".
    Essa frase, para mim, foi o substrato de todo o seu texto. É uma verdade essencial. Adorei (simples assim). Bjuuuuusssss

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  2. Coisa boa saber que você gostou, Inês!
    Amadurecer como filha me fez uma pessoa mais feliz.
    Beijo grande.

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