Em geral, supermercados, lojas e afins não são de fazer minha cabeça e, se eu não estiver vestida confortavelmente então, eles constituem um verdadeiro suplício.
Bora lá procurar uma roupa confortável para ir às compras. Escolho um vestido larguinho e comprido e como, todo mundo tem direito a uma rebeldia inofensiva de vez em quando, fui de chinelo de dedo.
Só quem nasceu em Petrópolis ou mora aqui há bastante tempo sabe o que isso pode significar: uma chuva de narizes torcidos e caretas capazes de enrugar as testas mais enrijecidas de botox. Afinal, quem ousa sair com um par de havaianas numa cidade em que os sapatos do imperador eram tão ricamente bordados?
Voltemos ao mercado. Eu sei que a sociedade teve que evoluir uma enormidade para que tenhamos a nossa disposição grandes salões arejados e frescos repletos de bancas, gôndolas e prateleiras. Tudo arrumadinho e dividido em seções nos oferecendo uma porção de coisas de que realmente precisamos e um tanto de outras que nem tanto. E, não duvidem, valorizo imensamente essa organização e essa praticidade toda.
Já tentei encarar a ida ao mercado das maneiras mais diversas para tornar o fastio que sinto em coisa melhor, mas ainda não havia tido sucesso.
Dessa vez ia ser diferente com o mercado e com os calçados. Ao invés de olhar nos olhos e receber as mais duras críticas imperiais, ia olhar para os pés à procura de alguma rebeldia que pudesse combinar com a minha.
Encontrei. Havia naquele mercado, alguns pares de pés enfiados em chinelos nem aí para o que diriam aqueles que se pusessem a julgá-los. Vibrei.
Tudo bem que eram, em sua maioria, do sexo masculino e que para os homens geralmente é mais fácil romper com esse tipo de regra social. Mas havia ali alguma insubmissão feminina também. Havia moças e mulheres andando com os pés desnudos num chinelinho de borracha sobre aquele chão de belíssimo granito. Éramos só conforto.
Os tempos estavam mudando.
E, por falar em tempo, o tempo passou que nem vi. Olhei para o carrinho de compras, tudo o que precisava já estava lá.
Passei no caixa, paguei e pensei: vim, vi e venci. Evoé! As livrarias que me esperem.
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