Há uma espécie de homem que encanta, que instiga e a quem algumas mulheres inconscientemente concedem o direito de vitimá-las em série: o “cafa”.
Ele chega de mansinho, assim como quem não quer nada. Não se engane: vai querer levar T-U-D-O!
Charmoso e dedicado, o cafa tem objetivo específico: a conquista. Primeiro ele fica por ali cercando, plantando sementes como quem não quer nada, na verdade vai passo a passo emitindo pilhas e pilhas de notas promissórias.
O cafa é um pirigueti disfarçado de namorado ideal. Um lobo em pele de cordeiro. É um-sete-um-puro-sangue. É pura malandragem.
Tudo no cafa é promessa, quase nada é realização. É um tipo específico e não muito raro de homem que merecia ser objeto de teses de doutorado. Seria um serviço prestado à imensa massa feminina que se atordoa com figuras dessa natureza.
Reconhecer um cafa, quando não se está envolvida com ele, é fácil. Ele tem cheiro, vocabulário, ginga, atos e atitudes próprios dos de sua espécie.
O cafa é perfumado. Tem bom gosto para os aromas. Quer proximidade com o feminino. Anda bem arrumado, quer impressionar. O cafa é hábil. É gentil. É disponível. Prestativo. É todo sorriso e simpatia. O cafa se sente. É um homem bem relacionado, tem inúmeros contatos e recebe incontáveis ligações telefônicas. Consulta de dois em dois minutos o telefone celular farejando algum indício de uma de suas conquistas.
O celular de um cafa, aliás merece um capítulo à parte, tem características próprias: está sempre na chamada vibratória, com freqüência encontra-se desligado ou fora da área de cobertura e vira e mexe fica sem bateria. A operadora do celular de um cafa é sempre um problema, não importa qual seja ela nunca funciona muito bem.
Nenhum registro de chamadas realizadas ou recebidas constam no celular de um cafa, a não ser aquelas acima de qualquer suspeita: mãe, pai, filhos, avós e a parentela toda que melhor lhe convier. Mensagens de texto então, essas somente as de sua operadora informando acerca das melhores promoções.
O cafa é como um pescador que tem muitos anzóis e muitas iscas em uma mesma linha de pesca. É como um investidor que diversifica suas ações. Investe (com duplo sentido) em muitas áreas ao mesmo tempo.
O cafa permeia todos os estratos sociais. Alguns, durante a abordagem, usam textos de Fernando Pessoa, outros músicas de Chico Buarque. Alguns atacam de pagode. Outros os rodeios buliçosos de um samba. Uns a sensualidade ou a transparência do funk. Outros a profundidade de textos religiosos. Tudo o que puder sensibilizar será utilizado por um cafa. Não se iluda, o cafa não tem escrúpulos, tem foco.
Não cometa um equívoco fatal: Cafa não é sinônimo de galinha. Galinhas são quase inofensíveis em si mesmos. O objetivo deles é “pegar” e para isso fazem o que for preciso. Quando "pegam" falam uma barbaridade. O galinha é "garganta", está sempre contando vantagem. Indivíduos dessa espécie podem causar danos à reputação de uma mulher (danos externos). Entretanto, como falam em demasia, sempre haverá de pairar imensa dúvida sobre seus relatos. Lembre-se: o objetivo do cafa é muito mais elaborado, o que o cafa deseja é conquistar. E conquistando, faz de sua “caça” uma refém de seu afeto. Transforma a cortejada em vítima quase num piscar de olhos. Indivíduos dessa espécie geralmente causam danos a autoestima de uma mulher (danos internos).
O cafa cobra caro! Mulher que se apaixona é presa fácil. Convém rezar todos os dias para não se apaixonar por um deles. Do contrário, é possível sofrer abuso de quase todo os tipos, inclusive abusos financeiros e os de sua inteligência. Sim, porque as desculpas de um cafa são inacreditáveis, são mentiras descaradas, mas ele as conta com tamanha convicção que a vítima não só acredita como, em alguns casos, acaba até se desculpando pelo absurdo de tê-lo questionado.
As finanças de um cafa também renderiam um capítulo separado. O cafa começa o relacionamento arcando com todas as despesas. Corteja promovendo grandes demonstrações de afeto. Tudo é por conta dele. Aos poucos, quase sem perceber, essa conta vai mudando e o peso da balança vai trocando de pratos. Quanto mais envolvida a mulher estiver, mais vai pagar as contas de um cafa. Ele tem tamanha habilidade com as palavras que vai fazendo a mulher acreditar que é o máximo ela poder pagar sempre a conta inteira e todas as contas o tempo todo. Aos poucos, ela vai se envolvendo e, antes que perceba, entregará na mão de um cafa esta ou aquela soma de dinheiro que, não se surpreenda, ele usará na conquista de outra vítima. É isso mesmo. O cafa usa o dinheiro de uma mulher para bancar as suas despesas iniciais com outra. O raciocínio é mais ou menos a noção de capital de giro.
O cafa aposta na carência da mulher e a transforma em sua dependente. O cafa é vício, é droga. Contudo, como sua autoestima é hipertrofiada comete um erro fatal: uma vez que tem que desprender muita energia na diversificação de suas conquistas, o cafa invariavelmente deixa as mulheres com que se envolve ainda mais carentes do que já são. As atenções de um cafa são sempre divididas e isso, mesmo inconscientemente, é notado por suas vítimas. No sexo ele pode ser bom, pode até mesmo beirar o fantástico, mas raramente apresentará uma freqüência satisfatória. Logo, ao deixar “suas” mulheres numa carência abissal, abre espaço para que elas busquem uma nova conquista. Alguém que lhes ajude a enxergar o vazio de si mesmas que um cafa costuma provocar.
Como o ponto fraco de um cafa é sua inabalável autoconfiança, as mulheres têm em suas longas ausências grandes aliadas na possibilidade de encontrar alguém que realmente valha a pena.
Outro ponto vulnerável em um cafa é que ele, depois de ter a certeza de ter conquistado sua vítima, já não se esforça muito para manter essa conquista. Ele esquece que há que manter o charme. Que conquistar deve ser uma atitude diária. Ele é malandro, gosta muito de ter trabalho não e arrefece a sedução. Logo, a mulher se desencanta.
Não demorará muito e ele agirá como se essa mulher tivesse a obrigação de pagar suas contas, fazer-lhe gentilezas, dar-lhe toda a sorte de atenções. Ele quer sempre o melhor e oferece quase sempre o mínimo.
Como se a relação fosse uma caderneta de poupança, de uma hora para outra o cafa começa a fazer saques incontáveis e assim, dentro de determinado tempo, a relação se esvazia e dela não restam sequer parcas moedas. O cafa é um grande sorvedouro de afetos.
Ele, no entanto, não abandonará o barco. Ele está habituado à comodidade. Ainda ficará por ali rondando, na espera de uma nova onda de bonança. Quase sempre, o cafa, apesar de inteligente, é tão cheio de si que não percebe o motivo da mulher ter mudado tanto em relação a ele. O cafa afinal crê, consciente ou inconscientemente, em um trecho infeliz do samba da bênção em que Vinícius afirma que a mulher deve ter "uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher: feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão."
Ah! Vinícius. A mulher evoluiu! Sua busca maior atualmente é pelo encontro dela mesma. Seus objetivos e anseios estão para além da existência masculina. Ainda que heranças como essas expressas em sua música tenham deixado vestígios e sinais no DNA feminino. A sociedade ainda cobra, comete equívocos nesse sentido, mesmo que nem sempre com o molejo e o encanto de sua poesia. O perdão tem limites e há imensa beleza nessa descoberta.
O cafa magoa. Deixa marcas. Abala. Pode ter efeito devastador na vida de uma mulher. Ninguém passa impunemente por um cafa. Todavia, a mulher que a ele sobrevive sai dessa relação fortalecida. Ela tem qualquer coisa de fênix. Qualquer coisa de experiente. Qualquer coisa de mordaz. Qualquer coisa de azougue. De etéreo e impalpável. Afinal, toda experiência traz aprendizado. E todo aprendizado deixa uma ou mais lições e diretrizes para lidar com situações similares e até mesmo diversas.
Vezes, pode ser no vazio deixado por um cafa, que a mulher saia em busca de si mesma e encontre sua própria completude, porque nenhuma relação pode ser plena se há em uma das partes uma enorme carência essencial. Para essa mulher, um cafa pode ser um grande e benéfico divisor de águas: de mulher carente a plena de si mesma. Afinal, como dizia o poeta: “ a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” e um encontro com sua própria essência pode ser a melhor maneira de começar a viver com um pouco mais de Amor.