Um dia você vai andando leve pela vida e, de repente, tropeça em um pedido. A sensação é mais ou menos como se num passe de mágica o tivessem tirado de uma confortável túnica e o envelopado numa saia justa.
Há várias maneiras de deixar alguém constrangido. Fazer pedidos inapropriados é uma delas. Há solicitações que ferem princípios e, ao contrário do senso comum de que “perguntar não ofende” (algumas perguntas são verdadeiras ofensas), há pedidos que, feitos através de perguntas ou não, ofendem.
Alguns ofendem moralmente, outros ferem a inteligência. Há pessoas que esperam de nós cada coisa que nos pomos a pensar: mas quando é que foi mesmo que eu transmiti a ideia de que isso era possível?
Imprensar o outro entre os próprios limites, princípios, crenças, diretrizes e o bem querer que tem por alguém é cruel e desleal.
Falo em bem querer porque normalmente tais solicitações provêm de pessoas que sabem exatamente a medida do afeto que se tem por elas. É valendo-se desse afeto que dardejam o que querem no peito do outro sem que isso lhes cause incômodo.
É simples e indolor negar algo a alguém com quem não se tem nenhum envolvimento. De quem não se espera compreensão. E não é uma compreensão da situação somente, mas a compreensão de você como um todo, como o ser humano que é.
É preciso, antes de solicitar, avaliar a exata noção dos limites do outro.
Noção. A palavra é essa. Bem desse jeitinho que está na moda, à maneira da gíria. Senso. Bom senso.
Algumas pessoas esperam de nós aquilo que não podemos ou não queremos ser, aquilo que não temos para dar.
O que fazer quando recebemos pedidos assim? Negar, é claro. Ainda que por vezes seja necessário vencer nosso próprio calvário.
Afinal, podemos romper com qualquer pessoa, menos com nossa essência.