Um pouco porque algumas novelas
estão anunciando seus últimos capítulos, um pouco porque a nova novela global
esteja mostrando a dura realidade vivida pela população do Rio de Janeiro no
fim do século XIX/ início do século XX, tenho pensado bastante naquilo que as
novelas nos ensinam.
Recentemente, quando acompanhava um
dos capítulos de “Amor eterno Amor”, fui surpreendida por um diálogo
maravilhoso acerca de ciúmes excessivos. Há muitas maneiras de matar um amor, ciúmes
desmedidos são armas eficazes para esse fim. A cena, que fazia parte do término
de um casamento, foi um presente para aqueles que gostam de analisar as
relações humanas. “Seus ciúmes me humilham”, dizia o personagem Kléber à esposa
Jaqueline, diante das desconfianças absurdas da mulher. Tal trecho da novela
merece ser revisto. Não só pelo diálogo entre o casal, mas por todos os que se
seguiram entre Kleber e as moças que foram o estopim para a concretização
daquela separação. Não há dúvidas de que uma separação, muitas vezes, se
constrói durante anos. “São tantas coisinhas miúdas roendo, comendo, arrasando
aos poucos com o nosso ideal”, já cantava o saudoso Gonzaguinha em seu “grito
de alerta”. Tempos e tempos abastecendo
um barril de pólvora que vezes explode à menor fagulha.
Na mesma trama, a transformação
da personagem Cris, auxiliada pelos sábios conselhos e, mais do que isso, pelo
amor de seu avô também deve ser olhada com particular atenção. As falas cheias
de dignidade e maturidade da personagem Miriam diante da impossibilidade da
realização amorosa são definitivamente um primor, um exemplo, um gatilho para
analisar a beleza que é ter amor próprio diante de uma frustração.
Mudando de horário (e de novela)
a quase comédia “Cheias de charme” tem algumas reflexões para provocar. Ou
alguém duvida de que as lições de honestidade e lealdade apresentadas pela
personagem Penha devam ser aproveitadas e seguidas? Primeiramente, porque a
moça é honesta com ela mesma, conquista que só realizam aquelas pessoas maduras
que sabem que “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira” (Legião urbana).
Depois, porque ela vivencia essa honestidade. Aplica o conceito na prática,
traduzindo-o em atitudes coerentes com seu discurso. Além de Penha, há algumas
sutilezas dignas de nota nessa novela. O conflito vivido por Rosário: amizade x
carreira. O desperdício de talento e de energia da cantora Chayene, que se
dedica a prejudicar na carreira de suas “rivais” ao invés de investir em sua
própria (aliás, que interpretação primorosa a de Claudia Abreu!). A capacidade
de dissimulação de Socorro. A subserviência de Laércio. E muitas outras.
Em Gabriela, há lições históricas
acerca do papel da mulher na sociedade e os avanços conquistados por ela ao
longo do tempo. Além disso, é possível ter um olhar mais crítico para os nossos
políticos a partir da história. Salve, Jorge Amado!
E Avenida Brasil? A meu ver, esta
chama atenção pela patologia. E não é patológico alguém dedicar uma vida
inteira a uma vingança? Além de Nina, há muitos personagens visivelmente
desequilibrados. Há muita falta de caráter. Ali há um “mix” daquilo que fragiliza
o ser humano e que o faz adoecer.
Novelas. Novelas. E mais novelas.
Falei de cinco delas. Nosso país é assim. A emissora com maior popularidade
exibe, se não perdi as contas, quatro novelas depois das 18:00h. Outra dedicada
aos jovens perto das 17:00h. E um repeteco no meio da tarde. É uma concorrência
desleal com os programas informativos e educativos. De alguma maneira, tal
programação influencia aqueles que as assistem. Certamente, não é possível ignorá-la.