Imagem do Pixabay |
Desde criança, sempre quis ser mãe. Brincava de bonecas cobrindo de
cuidados o bebê que, sem perceber, já estava gestando no plano das ideias. É
claro que essa análise é coisa que só posso fazer agora. Quando criança, via aquilo
tudo apenas como a brincadeira que devia ser. Ponto para a infância!
Aos 24, realizei aquele que seria o meu mais acalentado desejo: tornei-me
mãe. Jamais vou me esquecer daquele par de olhinhos me fitando na sala de
parto. Nem da troca de olhares durante a amamentação. É nesses momentos que se
percebe que é preciso nutrir aquela criança que você carrega nos braços. E
nutrir uma criança é coisa muito maior do que lhe oferecer leite e alimento.
Dar-se conta da dimensão dessa tarefa e desse vínculo é descobrir que mãe é
isso: parte coragem e bocado medo, parte certeza e bocado dúvida, parte acerto
e bocado erro.
Ser mãe é descobrir-se na corda bamba sem sombrinha com um bebê no colo
e, ainda assim, entender que a travessia é necessária, que é preciso buscar o
equilíbrio na caminhada para vencer os obstáculos e chegar em segurança ao
final de cada dia. Vida de mãe é toda travessia, receio, medo e enfrentamento.
Além da companhia de meu filho, a
maternidade trouxe para a minha vida uma visão mais humana da figura de minha
mãe e, com isso, a melhor compreensão de suas escolhas. Compreender que minha
mãe era uma mulher lutando com todas as suas forças para acertar e que,
mesmo assim, errava vez por outra, me fez reconhecer a humanidade de minha mãe.
Isso foi libertador. Para além da heroína de minha meninice, entendi que ela
tinha, muito mais do que super poderes, o confronto diário com suas angústias e
suas dúvidas, e que, portanto, estava muito mais próxima de mim do que eu
imaginava.
A maternidade transformou minha vida em muitos sentidos, inclusive, me
apresentando com clareza meus limites e minhas impossibilidades. Ela
sempre foi/será um exercício de força, superação e humildade. Qualquer febre
alta de um filho mostra claramente que você não pode tudo, e isso dói.
Maternidade é isto: doer-se e doar-se.
Daquele bebê de colo até o homem de 23 que hoje meu filho é, ser mãe tem
sido amor e aprendizado. Lições de um amor maiúsculo que não dou conta de
explicar. Apenas dou conta de sentir da minha perspectiva. Mãe é também um
conceito muito plural, e cada mulher sente essa grandeza a seu modo. E há até
aquelas que, com igual grandeza, decidam não viver a maternidade.
Da vista do meu ponto, creio que dar asas seja a parte mais complexa e
delicada do papel de mãe, e também a mais fundamental. Orientar o voo e deixar
voar. Eis aí o grande desafio. É para vencê-lo que mãe é feita, apesar da
vertigem que provoca.
Imagem do Pixabay |
O filho tem asas e tem céu, tem
horizonte, sonhos, objetivos, planos. Vejo-o forte e capaz. A firmeza de seu
caráter, o seu comportamento ético, o coração justo, a sensibilidade aguçada, a
objetividade e a força são partes da sua grandeza. A criança cresceu e constituiu-se
um rapaz admirável. O menino que transformou seus brinquedos-sonho em
realidade pode conquistar seus objetivos, é o que penso.
Ele tem asas. Eu sou ninho e
ponto de referência. "Todo verbo que é forte se conjuga no tempo, perto,
longe o que for', diz a canção que muitas vezes entoei para niná-lo. Eu e ele
cremos nisso. Cada um tem o seu papel e, para muito além de todas as incertezas
ou definições, somos mãe e filho. Há 23 anos professamos nossa fé na beleza e
na força do significado que isso tem.
A maternidade é, para mim, um ponto de luz. Céu e alicerce. É firmamento.