Moradora da Serra, mas de olhos compridos no mar. Assim eu sou. O mar me encanta sempre e, mais do que isso, sempre me faz apaziguada com todo seu esplendor e energia.

Descer a Serra invariavelmente é um prazer. A natureza exuberante. O rádio sintonizado em uma boa emissora: trilha sonora de primeira. O iminente encontro com o mar.
Cada viagem é uma viagem em dois aspectos: o objetivo e o subjetivo. Enquanto a estrada vai surgindo e o verde se escoando da paisagem, há sempre muito tempo de pôr as idéias em ordem, é sempre tempo de ficar comigo mesma.
Nada me estressa. Nem o trânsito, nem a mudança de odores, nem mesmo espaços de paisagens tão hostis. É tudo parte de um rito de passagem. “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor”.
Ao nível do mar, a primeira imagem que observo com delícia é a Igreja da Penha. Pequenininha e graciosa (se vista à distância) pairando sobre a Baía abençoada. Sempre um convite para o agradecimento aos céus por mais uma semana, por mais mar, mais Cristo Redentor, mais Rio de Janeiro - um amor bem antigo. Desde criança esse lugar me fascina.

Um corre-corre inevitável na cidade. Descer do carro é deslocar-me do tempo da contemplação ao da ação. Cumprir compromissos freneticamente, conforme dita a correria dos dias atuais. E depois, feliz, tornar ao carro-nave-salvo-conduto, para apreciação de tudo o que fica no caminho entre o mar e a montanha. É hora de, revigorada, regressar.