domingo, 20 de agosto de 2017

Salve a fantasia!

A arte existe porque a realidade não basta.
(Ferreira Gullart)


Não é segredo pra ninguém que muitos estudiosos e escritores ressaltam o poder da arte e da beleza, dentre outras coisas, para a promoção e a manutenção da saúde mental e emocional daqueles que, de algum modo, a elas se entregam. A arte salva nossas sensibilidades. Neste momento particular de dificuldade por que todos nós passamos, acho que precisamos de terapia intensiva. Quanto mais arte melhor. Tenho aceitado a prescrição daqueles caras. São doses de poesia, crônica, romance, pintura, música, dança, teatro e muito mais. Além disso, muita beleza natural, deliciosas conversas e a presença de gente cujo afeto aquece a alma e o coração são elementos fundamentais.

Dia desses, fui ao Theatro Dom Pedro em companhia de familiares e amigos assistir a uma montagem de “Sonho de uma noite de verão”, de Shakespeare. Foi verdadeiramente uma noite de sonhos. A montagem feita pela Companhia Arteira de Nova Friburgo transportou-nos à fantasia e trouxe-nos o delicioso contato com nossa criança interior, através da mescla entre humanos e fantoches no palco. A perfeição dos movimentos dos bonecos, a delicadeza do cenário e da música e uma primorosa atuação nos colocaram, por mais de uma hora, em contato com o sublime.

Foi uma grande sacada da trupe fazer os fantoches representarem os personagens humanos, numa linda metáfora para a interferência dos seres élficos em seus destinos. Coube, então, aos atores a representação dos seres elementais. As trapalhadas de Puck, numa esplêndida e envolvente atuação de Cássio Campos, levaram-nos às gargalhadas, enquanto a riqueza musical foi, sem dúvida, uma facilitadora para sonhássemos regidos pela maestria de Shakespeare. Antes que provássemos da flor encantada, estávamos todos apaixonados.
Dia do espetáculo - foto da Companhia Arteira

Floresta. Desejo. Sonho. Conflitos. Elfos. Fadas. Vaidade. Manipulação. Dúvida. Destino. Amor. Tudo ali sensivelmente retratado numa viagem fantástica e poética para a posterior reflexão sobre os grandes dramas da humanidade. O teatro é mesmo um espaço privilegiado. Não raras vezes nos tira da apatia e nos põe representados no palco ou em contato com algo que desconhecíamos em nós.  Pode nos refletir por dentro e por fora, tão necessário susto. A arte tem essa extraordinária capacidade de nos abismar, algumas vezes de maneira muito leve e lúdica como nessa montagem. Sonhos, gargalhadas, talento, criatividade e beleza: tudo num só espetáculo. O teatro pode ser bálsamo para as agruras da vida e um portal escancarado para um mundo além do físico. De fato, viver só de realidade não basta.



SOBRE O ESPETÁCULO:
Gênero: Comédia
Duração: 90 minutos

Direção: Gabriela Ribas
Supervisão de direção para manipulação de bonecos: Marise Nogueira
Trilha sonora original e direção musical: Diogo Rebel
Elenco: Cacá Pitrez, Cássio Campos, Catherine Bom, Gabriela Ribas, Gero Band, Jerônimo Nunes, Maria José Silva, Nathália Newlands e Silvia araújo
Cenografia: Silvia Araújo
Figurinos: Joanna Ribas
Artesã bonequeira: N´vea Semprini
Iluminação: Erlom Cordeiro

2 comentários:

  1. Uau, Marise Bender, que texto lindo!!!!!!! Além de agradecer, por minha filha e pela Cia Arteira, preciso agradecer por você ter se derramado em generosa explanação. Maravilha! É verdade: quando a gente está de coração aberto, a beleza e a sensibilidade entram e nos inundam a alma. Parabéns!!!!

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    1. É verdade! A alma aberta é requisito básico para o encantamento. Eu que agradeço, minha querida. E agradeço sempre.
      Beijos.

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