A mim me custa ver a cegueira que acomete a justiça brasileira.
Não pelo fato da imparcialidade, o que justificaria a venda nos olhos, embora
não justificasse cegueira, já que há muitas maneiras de ler o mundo, mas pelo
fato de ela ainda não ter percebido/lido/entendido que, se as instituições
estão fortes e se esse discurso de ódio não atinge a justiça e os magistrados, ele
atinge em cheio a população do país.
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Há, ainda, outras partes do todo brasileiro que não se encaixam na majoritária bipolaridade. Aqueles que estão
vendo a grave situação por que passa o Brasil, que percebem os efeitos negativos
daquilo que se aproxima, que notam e que também sentem o impacto violento da
onda de ódio em que quase a totalidade da população está mergulhada, não estão
deprimidos nem eufóricos, contudo tomados por uma tristeza lancinante. Estão
permanentemente em estado de dor.
Há os que percebem e estão paralisados de medo, tentando decidir
entre dois grandes medos que sentem ou querendo se abster de decidir. Há os que
se abstêm de decidir sem medo.
Há os que não percebem a real gravidade dos fatos que se anunciam,
haja vista que não foram atingidos pelo impacto das notícias da explosão de
agressividade que se desprendeu das urnas, logo após o resultado do primeiro
turno ter sido anunciado. É inegável que houve os ataques violentos por todo
Brasil, resultando até em mortes de algumas pessoas que não votaram em
Bolsonaro. Homossexuais foram agredidos. Mulheres têm sido constrangidas. Para
alguns, nada disso parece fazer sentido e para outros não parece incomodar.
Há muitos e diversos motivos para que as pessoas não percebam
seu entorno e não façam a leitura correta dos acontecimentos, o analfabetismo
funcional de que se tanto fala pode ser uma dessas razões, mas não será a
única. O fato é que não compreender o discurso dos candidatos que disputam
um pleito, este especialmente, é realmente um grande perigo. Vale dizer que, de
modo especial, não compreender o discurso do candidato do PSL pode ser um risco
um tanto acrescido. A fé cega em um líder é coisa que impede os cidadãos de
autonomamente questionarem qualquer “verdade” dita por seu, nesse caso não
líder, mas ídolo é outro fator a ser apontado. Há também a manipulação pela fé
religiosa por meio de lideranças que são notoriamente figuras sem compromisso
com a ética ou com o bem- estar de seus
fiéis (notem bem: fiéis). Há outras possibilidades. Não vou enumerá-las todas e
nem saberia esgotá-las.
Há, ainda, os eleitores de Bolsonaro que acreditam que o Brasil melhorará sob
seu comando e votam nele, simplesmente, por essa razão, são eleitores que
prezam o convívio pacífico entre as pessoas. Foi questão de escolha, opinião,
preferência. Tudo certo. Ainda que não concorde com a escolha, respeito
sobremaneira o direito de eles votarem no candidato que desejarem. Afinal, o
respeito às divergências é o cerne do processo democrático.
Há uma infinidade de variedades e matizes que, de forma alguma,
compõem a maioria da população. A imensa maioria do povo brasileiro está,
como demonstraram as urnas e têm
demonstrado as pesquisas, polarizada. Dentro da maioria eufórica, que é
composta por eleitores do candidato que se projeta para a vitória no próximo
dia 28 de outubro, há uma fatia de que não consigo precisar a medida nem
aproximada que consegue ler o perigo, que concorda com o padrão violento do
discurso que tem seguido e que se sente mais e mais empoderada a cada discurso
proferido por seu ídolo, por seus correligionários e por alguns de seus
apoiadores. É nessa fatia que mora o perigo. É precisamente nela que devemos
nos focar nesse momento, tendo em vista que é ela que pode agir violentamente a partir do fortalecimento desse discurso.
A justiça, com a devida vênia, pode até ser cega, mas não pode
cerrar os ouvidos aos efeitos de depressão (entre os que fazem oposição ao
candidato) e euforia (entre os que o apoiam) que o discurso de ódio do candidato
do PSL tem provocado na população.
Quando a justiça não coíbe essas falas, ela passa para a
população a sensação de que as está referendando para o mal e para o mal. Não
há qualquer efeito positivo em deixar passar essa sensação de normalidade do discurso
do candidato do PSL para nenhum brasileiro, quer seja ele de esquerda, de
direita, de centro, neutro ou não faça qualquer ideia do que seja isso.
Grafei a palavra justiça com letra minúscula para salientar como
uma grande parcela da população, e eu me incluo nela, tem visto a justiça
brasileira. Precisamos de uma JUSTIÇA MAIÚSCULA, que nos dê, como cidadãos
brasileiros que somos, a sensação da verdadeira Justiça e algum sentimento de
segurança. Por ora, o sentimento é desamparo.
Querida Marise,lendo os seus escritos pensei: como essa menina escreve bem.Porque será q não edita um livro? Atualmente é mais fácil.
ResponderExcluirParabéns, querida. Saudades de você.