"Carpe diem", lembrei de um filme de 1989, "Sociedade dos poetas mortos". Se fecho os olhos, ainda ouço Mr. Keating, o protagonista e professor de Literatura, diante das fotos daqueles que já haviam passado pela universidade: "colha logo seus botões de rosa". "Aproveite o dia!"
Rosa era o nome de minha avó paterna. Mulher que, com sua simplicidade, nos ensinou muito sobre a experiência de viver. Senhora de dedo verde, cultivava agapantos um ano inteiro para homenagear os mortos da família no dia de finados. Era nossa xamã, nosso totem e pajé (descendia de índios brasileiros). Com naturalidade, cabia a ela contar as histórias de nossos antepassados e os manter vivos em nossas memórias, bem como estar sempre pronta a abençoar nossos caminhos.
De certa maneira, sermos sobreviventes da pandemia, um desencarne doloroso e coletivo, faz de nós pessoas que sabem e que experimentaram a brevidade e fragilidade da vida. Nossos paradigmas foram mudados. Coisas de quem sente mais do que sabe que o tempo um dia cessa.
Dia desses, no aniversário de minha prima, conversávamos sobre os legados da pandemia. Para ela, a COVID-19 veio, entre outras coisas, mostrar precisamos valorizar aqueles que estão perto no momento. Festejar com os que estão na festa. Focar na presença e entender as ausências. Para mim, a pandemia gritou alto e bom som que precisamos cuidar de nós integralmente: mente, corpo, espírito e escolhas.
A morte/os mortos nos falam muito sobre a vida. E, como dizia Vinícius, "a vida é pra valer, e não se engane não, tem uma só".
É preciso honrá-la.
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