O que a gente faz, faz de coração. |
Em matéria de relações humanas,
todos nós temos nossa dose de complicação. Escreveu não leu, ou mesmo que tenha
lido, há um problema pra enfrentar. Dores, tristezas, e desilusões fazem parte
dos desafios que os relacionamentos nos propõem.
Como tantas outras pessoas, tenho
lá o meu lado “complicado e perfeitinho”. Sim, também eu sou uma mulher de fases (graças
a Deus!). E quando o calo aperta, quando a dor incomoda, trato logo de procurar
refúgio para uma conversa terapêutica. Desabafar pode ser curativo, à medida
que falamos daquilo que vai dentro de nós, nos escutamos e nos compreendemos um
pouco melhor. Acho que é por isso que, em geral, quando temos um problema, precisamos falar daquela história muitas e
muitas vezes, até que ela se esgote em nós. É como se ela fosse se resolvendo
em sílabas. Haja ouvidos disponíveis para nos auxiliar nessa tarefa! Ainda bem
que eles existem.
Uma conversa desse naipe requer
que esses ouvidos sejam confiáveis e generosos. Somente aqueles que nos amam (e
amam muito) têm a força necessária para conviver com o melhor e com o pior de
nós. Meus pais são desse jeitinho: pacientes e altruístas. Sempre prontos a me escutar, ainda que às
vezes, sinto, achassem melhor não verem de forma assim tão crua meus dramas e
dissabores. Fortes, firmes e gentis, não raras vezes, me emprestam os ombros e me
dão parte significativa de seu tempo. Tenho ótimos amigos, que também me
presenteiam com a sua cumplicidade, mas hoje quero mesmo é falar de um diálogo
que tive com meu pai.
Pois é, já faz um tempo, estava
eu num chororô daqueles, já soluçante, descendo a Serra Velha da Estrela,
dirigindo o carro de meu pai e dividindo com ele toda a minha angústia. Chorosa
e irritada (com raiva mesmo), eu reclamava o tempo que havia gasto e o tanto
que tinha doado de mim mesma naquele relacionamento que me causara tanto
sofrimento. Ia eu, Serra abaixo, desfiando um enorme rosário de “eu não”: eu
não devia ter feito isso, eu não devia ter dado aquilo, eu não devia tê-lo
ajudado em tal ocasião, eu não devia..., ele não merecia... quem nunca, né?! Lugar comum de todas as
frustrações. Meu pai olhou pra mim e, com a voz doce e firme, me chamou à razão:
você devia ter feito tudo o que fez, sim! Nas relações, devemos sempre dar o melhor
de nós e, se for possível, deixar a pessoa com quem nos relacionamos melhor do
que a encontramos, nunca pior. Em cada relação temos que acreditar e oferecer o
nosso melhor. Se não der certo, você terá feito o máximo que pôde. Você estará
em paz.
Aquilo foi como um choque. As
lágrimas cessaram instantaneamente. Meus
horizontes se ampliaram e comecei a enxergar a situação de uma perspectiva
completamente diferente. Aquilo era verdade, a razão até já sabia, mas, naquele
exato minuto, tinha feito sentido pra mim. Acolhi aquelas palavras
como preciosidades. Conversas desse quilate reverberam em nós pela eternidade,
autêntica herança deixada em nosso território afetivo. Jamais me esqueci desse
dia.
A dor é justa, dividir-se é
preciso, reclamar faz parte, mas, vezes, ficamos tão autocentrados que nos esquecemos
de olhar o relacionamento como um todo, como oportunidade de crescimento, como
parte de um aprendizado, como uma experiência rica, repleta de vivências e
significados. Como é bom ter alguém que nos ajude a despertar desse transe! E
como é bom que esse alguém seja o seu pai! Valeu muito (e continua valendo),
pai!
Pai, palavra forte e prenhe de significado. Feliz o cara que, tendo um filho, enxerga a grandeza da paternidade e, não abrindo mão de exercê-la, se inscreve de forma positiva e indelével na vida de seu filho.
Pai, palavra forte e prenhe de significado. Feliz o cara que, tendo um filho, enxerga a grandeza da paternidade e, não abrindo mão de exercê-la, se inscreve de forma positiva e indelével na vida de seu filho.
(Publicado no Diário de Petrópolis, em 16/08/2018)
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