quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Caravanas: um show todo sentimento

Foto: Fábio Motta/Estadão
Consta nos astros, nos signos, nos búzios e onde mais quer que seja, que ir a um show de Chico Buarque é a concretização de um sonho, não importa a quantos espetáculos se tenha assistido anteriormente.


Ele, que não é unanimidade (ufa!), com sua inteligência, musicalidade e poesia é mesmo arrebatador. Quem mais mereceria uma resenha feita por um Caetano tão nitidamente extasiado em pontos, vírgulas e metáforas? Ver Chico é isto: meio magia, meio ritual, todo encantamento. Ouvir, ver, emocionar-se, vibrar. Buarquear tem sempre um quê de sentimento, de realização pessoal, de presente.

Domingo foi dia de integrar a caravana do compositor na Vivo Rio e conferir a energia e o refinamento do artista. Já passava um tanto das oito da noite, quando ele pisou o palco e sua voz tímida e singular ocupou todo o ambiente com a força do samba Minha embaixada chegou. Na plateia, os corações eram franca batucada e os olhos pura admiração.

O cenário todo navegação: esfera armilar e cordas, que nos remetem a caravelas e desbravamento, nos conduzindo por mares inter e intraplanetários de lembrança e novidade. Rimas de hoje e de tempos atrás, sempre e cada vez mais atuais. O show inteiro transpira equilíbrio e luz. E que iluminação!


O samba cresce e pede passagem até desaguar numa delicada interpretação de Iolanda em que bate forte Pablo Milanés. Em seguida, desemboca nada casualmente em canções do novo trabalho. Depois, menções a Edu Lobo e a Tom Jobim numa fala doce e emocionada de reverência ao talento dos dois. Algumas composições feitas com eles e, na sequência, aquela que agora traz em si uma aura ainda mais afetiva. Além de divinamente interpretada por Bia Paes Leme, como não lembrar das vozes de avô e neta em um Dueto familiar?

No coração do programa surge a encantadora e rica Massarandupió. Aquele piá, aquele psiu, aquele bacuri cresceu. Já faz música de gente grande e deixa cada um de nós babando e respirando afeto, e cor, e som. Os Chicos nos enternecem. É com o espírito delicadamente comovido que recebemos Todo sentimento. Somos todos encantados.

Quando Tua cantiga inaugura o terço final da apresentação, o  público irrompe em aplausos e une sua voz à do cantor para que celebrem juntos a liberdade incontestável do eu lírico da canção. As vozes se fundem e a emoção emana de cada um transformando a atmosfera do lugar. Ao fim da melodia, uma sucessão de palmas, brados e assovios. Manifestação calorosa que tem tom de desagravo. E sabiá retardou seu pouso, o silêncio que evoca demorou a chegar.


Foto: Fábio Motta/Estadão
Um chapéu de malandro surge em cena e saúda uma lembrança querida. É chegado o momento de  homenagear Wilson das Neves, o companheiro de toda uma estrada, falecido em agosto do ano passado. As caravanas passam trazendo à luz e em letra o subúrbio carioca, marca registrada do compositor. 

Samba, bolero, blues... é uma profusão de ritmos. Vem chegando o enceramento, a derradeira estação. O cantor é ainda mais aplaudido. Todos estamos, como Caetano, extasiados. Biiiiiis! Mais uma! Volta! Fora, Temer! E Chico volta! E tem mais: uma vigorosa Geni e o zepelim e a emoção de Futuros amantes parecem dizer que a noite acabou. Parece! Mais palmas, mais saudações, mais clamores. Mais! E ele termina com Paratodos. 
Que venham outros sonhos!




---------------------------------
Que tal ouvir Chico Buarque?

Set list de Caravanas:

Minha embaixada chegou
Mambembe
Partido alto
Iolanda
Casualmente
A moça do sonho
Retrato em branco e preto
Desaforos
Injuriado
Dueto
A volta do malandro
Palavra de mulher

As vitrines
Jogo de bola
Massarandupió

Outros sonhos
Blues para Bia
A história de Lily Braun
A bela e a fera

Todo sentimento
Tua cantiga
Sabiá
Grande hotel
Gota d´água
As caravanas

Estação derradeira

Bis
Geni e o Zepelim
Futuros amantes

Bis 2
Paratodos

Nenhum comentário:

Postar um comentário