O Natal já havia passado e o Ano
Velho ia já quase dobrando o Cabo da Boa Esperança. Prenúncio de novidade. Ainda que o que
houvesse de concretamente novo fosse apenas a mudança de uma data para a outra
e a troca do calendário, era tempo de renovar também a fé a confiança em um
futuro feliz. A data estabelecida para a troca de presentes já tinha passado,
mas o desejo de presentear permanecia. Resolvemos nos encontrar para trocar,
mais do que lembranças, o afeto que não nos falta e que nos é sempre muito
caro.
Imagem disponível no Pixabay |
Ele gosta de cerveja, eu prefiro
café. Ele mora pertinho do mar e adora os encantos da serra. Eu moro na serra e
me deixo inebriar pela maresia todas as vezes que posso. Somos diferentes, mas temos
afinidades, ambos curtimos esse caleidoscópio que formamos. Bora pra uma
cafeteria que nos permite aproximar os
paladares e celebrar o bem-querer agradando aos dois. Erguemos um brinde com cerveja e
café, e recebi das mãos do meu amigo um pacote quadradinho o qual abri com
gratidão e surpresa: era uma lâmpada. Não uma lâmpada qualquer, mas operada por
Bluetooth, capaz de tocar músicas e de promover um verdadeiro festival de
cores.
Papo em dia, abraço apertado pra
recarregar as energias, despedida com gosto de até breve, fui para casa com o
presente nas mãos, ainda meio cética de que ele fosse me encantar. Sou do tipo
que fica feliz pelo simples fato de receber um mimo, seja lá o que ele for, mas
até aquele momento, o objeto em questão era ainda uma luzinha recheada de promessas.
O Ano Novo chegou e com ele a
oportunidade de estrear o presente. Experimentar coisas novas, particularmente aquelas que me são dadas por pessoas especiais, só com tempo e em momento
apropriado para a devida apreciação. No momento ideal para curtir a novidade, escolhi
uma música cheia de significado e zás! Conectei a lâmpada a um abajur e a pus
em funcionamento. Para meu espanto, eu curti de imediato. Foi um banho de cores
e ritmos, de som, de alegria - proporcionada não só pelo objeto, mas pelo
carinho com que ele me foi dado. Foi como se, de repente, a casa toda tivesse
sido aspergida pela magia do pó de pirlimpimpim e houvesse ali desembarcado uma
nuvem de contentamento. A lâmpada havia trazido um bocado generoso de
leveza.
Resgatei aquela sensação
deliciosa de criança que ganha o brinquedo favorito. Por que será que quando a gente cresce se esquece de brincar e das alegrias mais simples? Vibrei e cantei. E, diante
do inesperado efeito do presente, a casa se encheu de gargalhadas e novidades:
a família adorou a brincadeira. Inclusive a nova construção de sentidos de meu
pai: - então, está ouvindo o abajur?! Frase maravilhosa que não passa despercebida àqueles que gostam de brincar com as palavras. É... todos ficamos iluminados.
Amizade é isto: luz. É um tipo de
relação genial, que segura as nossas barras e nos faz sorrir inocentemente, que
enfrenta nossas ondas e marés e olha corajosamente as nossas tempestades, que
entende os nossos períodos de silêncio, que
se divide conosco e que, às vezes, adivinha o que nos trará aquele tipo de felicidade
miudinha, tão essencial para enfrentar as barras do dia a dia. Música é dessas felicidades pequeninas que
podem harmonizar um pouco mais a nossa vida. Ponto pro amigo que me deu o luminoso presente!
Amizade é lâmpada maravilhosa,
cuja magia está contida no amor, no bem-querer, no respeito e na liberdade. Amigo é feito
gênio, não daquele tipo que realiza três pedidos, mas que, de perto ou de
longe, modifica nossa vida pra melhor e enche a nossa caminhada de sentido. Tal qual o título da canção que escolhi pra
estrear meu presente: é trevo de quatro folhas. Sorte de quem tem.
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Trevo, uma música que me faz lembrar a amizade:
https://www.youtube.com/watch?v=kq1adq4KL90