A trama abordou a tristeza do companheiro de Dora, o sofrimento de sua filha e a busca pelo equilíbrio da própria personagem para viver seus dias até o fim, através de cuidados paliativos.
Foi desse modo que também o público veio sendo preparado para a partida da hippie: com cuidados. Com a exposição à realidade numa aura sensível que dava mais luz aos desejos humanos de Dora do que à doença em si mesma.
A aproximação do núcleo cômico ao núcleo alternativo e, a essa altura, dramático da história tornou a despedida mais leve e terna. Sobretudo com a proximidade de Lui Lorenzo com sua música sem compromisso, seu jeito apaixonado e sua quase ingenuidade extemporânea disposta a realizar os desejos daquela que se aproximava do desencarne.
Em tudo a terra, a arte e a fé estiveram presentes nesse desenlace entre o mundo físico e o impalpável. Teatro e música. Religião e crença. Natureza e meditação. Fantasias e carnaval.
Não à toa a cena encerra-se com uma cerimônia para o espalhamento das cinzas da mulher/mãe/amiga por um canteiro de flores. Do pó ao pó nas asas de um passarinho e nos beijos de um beija-flor, Dora foi semeada exalando energia e amor, enquanto cada gesto, verso, canto, rosto de cada personagem revelava saudade e respeito. Foi lindo.
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