quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Foto de perfil

Com as redes sociais fazendo cada vez mais parte do nosso cotidiano, sobrou-nos mais uma atribuição: escolher a foto do perfil. Quando aquela dieta está a toda, e os resultados estão na cara, a tarefa pode ser até um tanto prazerosa. Duro mesmo é fazer isso quando os ponteiros da balança estão gritando e o rosto redondo já se faz indisfarçável. Há quem apele para aplicativos, eu prefiro a imagem real, a fim de evitar algum constrangimento diante de um encontro fora das telas. Imaginem só.

Não posso dizer que só tenha me metido em apuros nas vezes em que tentei resolver à força meus problemas com o excesso de peso. Mas posso garantir que todas as vezes que fiz isso me meti em encrencas.

Primeiro indo ao consultório de um endocrinologista que me receitou um remedinho que não só prometia um milagre, como o realizou. Perdi mais de trinta quilos. O problema é que os encontrei com acréscimo logo na esquina.

Depois, mudei de médico. Agora era uma endocrinologista que vendia medicamentos manipulados. Eles secavam o corpo e a alegria dos pacientes. Quando isso acontecia, ela indicava um analista. Não deu certo. E nem podia.

Os anos se passavam e lá estava eu lutando por um corpo mais magro e funcional. Até que apareceu a possibilidade de uma cirurgia de banda gástrica. Era definitivo, diziam. Topei.

Nada de ser feliz para sempre. Dez anos depois, partes da banda me causaram uma  enorme infecção. Tive que retirar a prótese. Foi um tremendo susto, minha vida esteve por um fio.

Encerrado o capítulo banda gástrica, vivi muitos anos com uma variação controlada de peso. Há uns três anos, no entanto,  todos os quilos estão de volta. Exibidos e prepotentes.

Vasculhar um baú com fotografias é revolver a própria história. Para trocar minha imagem de perfil, revisitei minha trajetória.  Encarei  os fatos, analisei as fotos, selecionei o melhor retrato. 

Entendi. Escolhi. Postei.

O aumento de peso ficou mais evidente. Postar uma foto nas redes é lançar-se a um julgamento em praça pública com sentenças nem sempre edificantes.  Inclusive as nossas. O juízo social me importa menos do que as ameaças que o excesso de peso pode trazer a minha qualidade de vida. Por isso, resolvi escrever. Gosto de pensar que dividir essa jornada pode poupar sofrimento a alguém.

Hoje é Dia Internacional da Obesidade e Nacional de Prevenção à Obesidade. Ontem foi Dia Mundial da Saúde Mental. As datas são próximas e os assuntos estão absolutamente interligados. Ao obedecer cegamente ao desejo de perder peso, pode-se encontrar depressão, ansiedade e muitas outras dores físicas, psicológicas ou emocionais. É preciso estar muito atento, instruído e equilibrado  para fazer as melhores escolhas.

Não desisti das dietas, mas me desprendi dessa ampulheta em looping que nos faz querer resultados rápidos. Tanto enfrentamento  já me ensinou que nem sempre a melhor pose rende os álbuns mais bonitos. Todo o cenário importa e bem-estar é algo que nenhuma lente pode verdadeiramente  capturar.  É do tanto de mim que não cabe em imagens que estou cuidando neste exato momento. Penso em nutricionistas, opto por terapia e não desejo coisa alguma que me tire a paz.


Meu foco hoje é ser e estar sã.


📷 Contemplando o nascer do sol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário