"Tudo ficará claro na plenitude do tempo."
(Alice através do Espelho)
Cena do filme Alice através do espelho |
Dois mil e dezesseis ainda nem terminou e eu já preciso falar
sobre ele. Tanta coisa preocupante acontecendo aqui e em outros países. Tantas
baixas, meu Deus! Quantas! Não tá fácil pra ninguém, como dizem por aí, e eu
tenho necessidade premente de escrever. Do contrário, a digestão de fatos tão
amargos, fica ainda mais difícil.
A permanência da crise migratória na Europa, Malauí decretando desastre nacional por motivo de seca e de falta de alimentos, o massacre em Nice em 14 de julho, o processo de impeachment no Brasil, as eleições americanas e a incerteza que trouxeram ao mundo, isso para citar apenas uma pequena parte da aura pesada e tumultuada de 2016, nos dessassossegam.
Em nosso país tivemos muitas mortes. Muitas mesmo. Inclusive de processos, instituições e afetos, haja vista a morte da moralidade no Congresso Nacional e de muitas amizades pelas redes sociais. A sociedade parece adoecida. Muito radicalismo, muito maniqueísmo, bom senso quase nenhum e significativas perdas.
Há uma semana, fomos abatidos pelo acidente com o avião que transportava a equipe da Chapecoense, um clube que galgou a primeira divisão do futebol brasileiro por mérito próprio, sem jeitinho, na determinação, na atitude, na organização, na raça e na competência, e que estava prestes a disputar o título mais importante de sua existência. Todos nós ficamos, de certo modo, mortificados naquele desastre, mais ainda com o fato de a tragpedia ter sido causada por falhas evitáveis. O acidente com os meninos bateu, sim, como uma voadora em nossos peitos levando muito da nossa alegria. A vida é tão fugaz!
Não bastassem esses e outros acontecimentos, temos que dar conta de nossas demandas e dos nossos dramas pessoais, claro. O trabalho que não deslancha como queremos, o colega que resolve infernizar nosso dia, os altos e baixos dos relacionamentos, o dinheiro que está curto e as contas que estão prestes a vencer, para falar o mínimo. É... cada um tem seus problemas.
É imprescindível que nos mantenhamos informados, contudo diante de um ano tão difícil, pessoal e coletivamente (e em todo tempo), carecemos de lenitivos que nos ajudem a preservar a saúde, para não sucumbirmos à tristeza e tampouco à desesperança.
Cada um tem sua receita própria. Eu, por exemplo, além de tentar me conectar com Deus através da prece, faço questão de me cercar de beleza e de compartilhar um tanto dela diariamente. Percebo alguns amigos fazendo isso também. A arte pode ajudar muito nesse sentido. Esculturas, quadros, romances, poemas, músicas carregadas de harmonia, significado e encanto. Sim! Pode-se usar cada um desses itens, em doses homeopáticas, todos os dias. Todos! Afinal, "a arte existe porque a vida não basta", não é mesmo, Ferreira Gullar? E a beleza é uma das guardiãs da sensibilidade, da humanidade, dos afetos e das emoções.
A permanência da crise migratória na Europa, Malauí decretando desastre nacional por motivo de seca e de falta de alimentos, o massacre em Nice em 14 de julho, o processo de impeachment no Brasil, as eleições americanas e a incerteza que trouxeram ao mundo, isso para citar apenas uma pequena parte da aura pesada e tumultuada de 2016, nos dessassossegam.
Em nosso país tivemos muitas mortes. Muitas mesmo. Inclusive de processos, instituições e afetos, haja vista a morte da moralidade no Congresso Nacional e de muitas amizades pelas redes sociais. A sociedade parece adoecida. Muito radicalismo, muito maniqueísmo, bom senso quase nenhum e significativas perdas.
Há uma semana, fomos abatidos pelo acidente com o avião que transportava a equipe da Chapecoense, um clube que galgou a primeira divisão do futebol brasileiro por mérito próprio, sem jeitinho, na determinação, na atitude, na organização, na raça e na competência, e que estava prestes a disputar o título mais importante de sua existência. Todos nós ficamos, de certo modo, mortificados naquele desastre, mais ainda com o fato de a tragpedia ter sido causada por falhas evitáveis. O acidente com os meninos bateu, sim, como uma voadora em nossos peitos levando muito da nossa alegria. A vida é tão fugaz!
Não bastassem esses e outros acontecimentos, temos que dar conta de nossas demandas e dos nossos dramas pessoais, claro. O trabalho que não deslancha como queremos, o colega que resolve infernizar nosso dia, os altos e baixos dos relacionamentos, o dinheiro que está curto e as contas que estão prestes a vencer, para falar o mínimo. É... cada um tem seus problemas.
É imprescindível que nos mantenhamos informados, contudo diante de um ano tão difícil, pessoal e coletivamente (e em todo tempo), carecemos de lenitivos que nos ajudem a preservar a saúde, para não sucumbirmos à tristeza e tampouco à desesperança.
Cada um tem sua receita própria. Eu, por exemplo, além de tentar me conectar com Deus através da prece, faço questão de me cercar de beleza e de compartilhar um tanto dela diariamente. Percebo alguns amigos fazendo isso também. A arte pode ajudar muito nesse sentido. Esculturas, quadros, romances, poemas, músicas carregadas de harmonia, significado e encanto. Sim! Pode-se usar cada um desses itens, em doses homeopáticas, todos os dias. Todos! Afinal, "a arte existe porque a vida não basta", não é mesmo, Ferreira Gullar? E a beleza é uma das guardiãs da sensibilidade, da humanidade, dos afetos e das emoções.
Amanhacer na Praia de Itaoca-ES |
Outra coisa que pode trazer renovação é o contato com
a natureza: observar, fotografar, contemplar, ouvir, curtir, sentir. Cheiro de
mar, noite de luar, o céu coalhadinho de estrelas ou mesmo cantigas de chuvas
suaves me dão uma baita energia. Nascer e pôr do sol ,então, no meu caso,
funcionam divinamente.
E tem mais, carinho também faz efeito: abraço de mãe, conversa
de pai, beijo de irmã, chamego de filho, papo com amigos, família pra prosear.
Brincar com um animalzinho. Sorrir com graças infantis.
Pequenos prazeres podem agir como um bálsamo, embora
não funcionem como um milagre. Alguma dor sempre resiste e, cá entre nós, ela é
matéria-prima para o nosso crescimento. A dor também faz parte da vida. Cada um
deve saber que remédio tomar para enfrentá-la com sabedoria e serenidade.
É importante ter em mente que os excessos são, no mais
das vezes, desnorteantes. É preciso buscar o equilíbrio. E não esquecer de reservar
um tempo para estar só (isso, para mim, é essencial).
Foi buscando um tempinho de recreio nesses nossos dias
tão áridos, que tive uma grata surpresa. Vezes, não é possível assistir alguns
títulos que me atraem no cinema, mas eles não me saem da cabeça, com esse, foi
o que aconteceu. Era domingo em Petrópolis. Chuva. Frio. “Alice através do
espelho”. Uma sequência perfeita! Tratando do tempo, “Alice” me conduziu
deliciosamente, através da fantasia, a reflexões relevantes para melhor
proveito da vida. Revisitei conclusões a que já tinha chegado e a que, em algum
momento, todos chegam. São próximas e conhecidas, mas nem sempre as colocamos
em prática. Todas as vezes em que ocorrem fatalidades, tomamos resoluções para aproveitar melhor nosso tempo, mas a
medida que os dias vão passando, elas se esmaecem e tendemos a voltar a nossa
antiga rotina. É preciso rever essa conduta.
Afinal, o tempo passa mais rápido do que nos damos
conta. Nosso tempo nessa vida tem
limites. Haverá um tempo em que não teremos mais acesso aos nossos bens
materiais (nossos?!). Nossos preconceitos nos fazem perder tempo e oportunidades,
já que, apesar de muitas vezes nos sentirmos os donos da verdade, não podemos
julgar com justeza sem o conhecimento de todos os fatos. Fazer boas escolhas
deve estar na pauta do dia para aproveitarmos bem nosso tempo. “Um dia todos
acabam partindo com o que têm”, na verdade, com o que são. E, quando esse
momento chegar, é muito bom que tenhamos tido boas lonjuras, enquanto
estivermos por aqui, que seja a bordo do Maravilha.
Contextualização:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/04/malaui-decreta-desastre-nacional-por-seca-e-falta-de-alimentos.html
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/07/1791843-caminhao-avanca-sobre-multidao-em-festa-da-queda-da-bastilha-em-nice.shtml
Colombianos: especialistas em solidariedade.
http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/chapecoense/noticia/2016/11/atletico-nacional-lota-estadio-em-apoio-chape-uma-nova-familia-nasce.html
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