domingo, 20 de agosto de 2023

Tempo e espaço navegando todos os sentidos


Devo confessar que fiquei um pouco borocochô com o final dado à novela "Vai na fé". Razão pela qual não consegui escrever sobre isso logo de saída.  Achei um tanto exagerada a dose empregada de mentiras nos últimos capítulos da trama. Mesmo pra mim que não perco um "Missão impossível" e tampouco um "Indiana Jones". Ainda bem que uma obra não se resume ao seu último capítulo!

Houve muita coisa boa exibida no trajeto. A valorização da diversidade foi destaque nessa obra de Rosane Svartman. Diversidade racial, sexual, religiosa, social, cultural. Falar de um plural tão presente, tão notório e tão notável em nosso dia a dia foi, desde sempre, sua marca registrada.

O uso do canto e da música para tornar visível e tátil os conflitos internos, os desejos, as dificuldades, o trabalho das personagens foi um recurso muito bem aproveitado do início ao fim. E, mesmo quando os intérpretes desafinaram, deram prova inconteste de que "no peito dos desafinados também bate um coração".

Aliás, entrei nesse texto para falar de um capítulo bastante significativo. Capítulo esse em que a passagem do tempo foi marcada pela maioria do elenco cantando "Tempo rei", de Gilberto Gil. Programadas para serem uma homenagem a Gil por seus robustos 81 anos de idade, as cenas presentearam a todos nós com a delicadeza necessária para nos lembrar que o tempo é soberano e que "tudo agora mesmo pode estar por um segundo".

E, por falar em fim, do término, tirei como ponto alto a ascensão das personagens negras e de origem pobre pela arte, pelo trabalho, pela fé e pela luta diária para a conquista dos sonhos e objetivos. "Vai na fé", sem dúvida, ofereceu referências fortes o suficiente para que elas se tornassem um espelho para a sociedade. Que o diga Clara Moneke.

Do último capítulo, posso dizer que achei de "mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto" em relação ao parto caricato da Guiga, que não gostei dos exageros em relação ao Theo (ele merecia ter sido preso antes daquele momento derradeiro), mas que gostei que tudo terminasse em celebração, que um buquê marcasse a união de três casais, que todos os caminhos conduzissem Sol até Ben (e vice-versa) e que houvesse um baita beijo e uma piscadela no final.

Graça, paz e axé!

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