Acabo de ler o pequeno grande
livro “Para educar crianças feministas – um manifesto”, de Chimamanda Ngozi
Adichie. O texto é daqueles cuja leitura é rápida e o conteúdo transformador.
Nascido a partir de uma carta que a escritora redigiu como resposta à pergunta
de uma amiga de infância que, na época, desejava saber como criar sua filha recém-nascida
como feminista, o livro propõe caminhos para que tentemos, através da maneira
de criar nossos filhos, preparar um mundo mais justo para mulheres e homens e nos
faz pensar.
A leitura me remeteu à maneira
como fui criada e também ao modo como criei meu filho, hoje com quase 22 anos.
Conforme lia, encontrava aquela menininha que um dia eu fui e, não poucas
vezes, desejei ter ouvido algumas daquelas palavras ali escritas, para que
pudesse ter enfrentado essa vida mais dona de mim e de maneira mais corajosa
também. As coisas que são plantadas na cabecinha de gente em tenra idade, às
vezes sutilmente, deixam uma herança que em alguns casos precisa ser resolvida no
consultório de um terapeuta. Bem, aquilo que passou não tem jeito, está escrito
e virou história, mas revisitar o passado sem melancolia é também processo de
aprendizado. O negócio é daqui para frente e, saibam, mesmo para mim, uma
mulher de 46 anos, ler certas coisas contidas no manifesto, ajudou a fortalecer
a alma - a de mulher, a de mãe e a de filha também. É reconfortante e
encorajador dar de cara com uma sentença como: “as pessoas vão usar a
‘tradição’ seletivamente para justificar qualquer coisa” e perceber que é a
mais pura verdade e que muitas vezes isso está intrinsecamente ligado à
manutenção de discriminações e injustiças. Ler o livro da nigeriana pode, mais
do que ajudar a criar filhas e filhos para uma vida mais justa, ajudar a fechar
velhas feridas.
A autora faz um verdadeiro carinho nas mães, sobretudo naquelas de primeira viagem, quando expõe tão claramente que criar seus próprios filhos é muito mais difícil do que palpitar na criação dos filhos dos outros, que é uma tarefa gratificante sim, mas uma realidade bastante complexa. Dessa forma, ela mesma diz que vai “tentar” criar a sua própria filha segundo as suas proposições - ela foi mãe depois de ter escrito a carta – e incentiva que as mães – citadas na figura de sua amiga – peçam ajuda, que sejam boas para elas mesmas. Lembrei-me de três casais de jovens pais que acompanho bem de pertinho e, com alegria, percebi que têm ideias semelhantes a algumas constantes do texto, na perspectiva da construção de um mundo mais equilibrado, de uma vida mais leve e de uma realidade com mais justiça.
A autora faz um verdadeiro carinho nas mães, sobretudo naquelas de primeira viagem, quando expõe tão claramente que criar seus próprios filhos é muito mais difícil do que palpitar na criação dos filhos dos outros, que é uma tarefa gratificante sim, mas uma realidade bastante complexa. Dessa forma, ela mesma diz que vai “tentar” criar a sua própria filha segundo as suas proposições - ela foi mãe depois de ter escrito a carta – e incentiva que as mães – citadas na figura de sua amiga – peçam ajuda, que sejam boas para elas mesmas. Lembrei-me de três casais de jovens pais que acompanho bem de pertinho e, com alegria, percebi que têm ideias semelhantes a algumas constantes do texto, na perspectiva da construção de um mundo mais equilibrado, de uma vida mais leve e de uma realidade com mais justiça.
Ver meu filho aqui em casa também
me enche de contentamento. Ver o cara respeitador das individualidades alheias que
ele é, é constatar que ensinar a ele sobre a diferença, sobre não atribuir
valor à diferença, foi parte fundamental de seu processo educativo. É claro que
também cometi erros pelo caminho, todos cometem, muita vez, falar sobre eles
também é importante. O diálogo, a confiança, a disponibilidade para oferecer a
linguagem ao seu filho são coisas de suma importância e Chimamanda fala
sobremaneira sobre isso. Aliás, sobre a linguagem, há uma frase belíssima e que
gera reflexão imediata: “a linguagem é o repositório de nossos preconceitos, de
nossas crenças, de nossos pressupostos. Mas, para lhe ensinar isso, você terá
de questionar sua própria linguagem.” Aí está explicitada de forma contundente
a importância crucial da linguagem em nossos relacionamentos, em nossa relação
com o mundo e na perpetuação ou não da transmissão de conceitos equivocados aos
nossos filhos.
Sempre me debati com a palavra
pãe. Jamais gostaria de receber parabéns no dia dos pais. Sempre me entendi como
mãe. O abandono emocional de seu próprio pai – quer seja biológico ou adotivo -
é uma ausência que uma pessoa leva para a vida toda, mesmo que busque e
encontre referências em um avô, um tio ou em um amigo ou namorado de sua mãe,
mesmo que supere esse trauma. Muitas pessoas podem até esquecer que ser pai é
muito mais do que ser um provedor e escolherem exercer somente o segundo papel ou nem esse,
mas o fato de um filho ter sua mãe ali presente o tempo todo diante dessa
ausência, significa apenas que o filho tem a mãe presente, que ela é a melhor
mãe que consegue ser, e não que ela esteja exercendo os dois papéis. O
contrário também é absolutamente verdadeiro. Adichie exalta a relevância dos dois papéis,
refuta o uso da palavra pãe, e nisso concordo em absoluto com ela.
Mais do que um roteiro para a
criação de crianças feministas, o livro é uma importante reflexão sobre a
importância da educação de nossas crianças para a construção de um mundo em que
haja respeito à diversidade, respeito entre as relações humanas e, sobretudo,
respeito ao espaço e à autenticidade de cada um no convívio social. O livro é
pequeno, tem preço acessível, a linguagem é clara e objetiva, a leitura é fácil
e rápida e seu conteúdo é transformador. É um livro fundamental.
CONHECENDO UM POUCO MAIS DE CHIMAMANDA ADICHIE:"O perigo de uma história única"
https://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story?language=pt-br