sexta-feira, 22 de julho de 2022

É a vida

Sou do tempo em que as crianças namoravam. Calma! Ainda não é para ficar escandalizado. Naquela época, namorar era simplesmente formar um par. Nesse sentido, meu primeiro "namoradinho de escola" se chamava Pedro, era meu parceiro na quadrilha de São João, nossas famílias se davam bem, tiravam fotos da dança e ponto: namorar era isso.

Também sou do tempo em que o verbo  namorar não tinha qualquer conotação sexual. Pelo contrário, no namoro, o sexo era proibidão, principalmente para as moças (adolescentes e jovens). Não se devia ou podia fazê-lo antes do casamento e  aquela que ousasse experimentá-lo antecipadamente ficava mal vista e mal falada pela sociedade.  Os namorados deviam ser apresentados à família, participar dos almoços aos domingos e aparecerem no máximo três vezes por semana: quarta, sábado e domingo.

Hoje o sexo está  implícito no sentido do  verbo namorar, o que justifica levantar a bandeira de que criança não namora. Não meeesmo!

Voltando à inocência da infância de tempos passados,   era comum as crianças dos anos 70 gostarem de alguém e acreditarem que o namoravam, mesmo que o "parceiro" não soubesse daquele gostar especial. Era quase o crush de hoje em dia para os nossos jovens. Acho que essa pode ser a versão de namoro escondido mais fidedigna que conheço.

Pois bem, me casei muito nova e, quando me separei, depois de um total de dezessete anos de convívio (namoro + casamento), tinha perdido a noção de namoro (qual seria  agora?). Perdi a minha bússola afetiva. O que não deixou de gerar alguns problemas semânticos e sentimentais.

Não por acaso, o primeiro relacionamento amoroso que tive depois do novo estado civil teve um descompasso conceitual: eu namorei/ele ficou/nós tivemos uma amizade colorida. Isso eu entendo com as gradações da palavra namoro que só a vivência me permitiu.

Então à toa, quando o crush foi, meio de lado, já saindo, indo embora da minha vida, trouxe-me  de presente o CD de Milton Nascimento, "Encontros e despedidas", foi nele que escutei pela primeira vez a música "Lágrima do Sul"  que se tornou a minha predileta do compositor.

Seja lá qual for o nome que tenha tido, achei o fim dessa relação digno, sagaz e poético. A amizade?! Essa resiste até hoje. 

A plataforma da nossa estação é a vida.

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