Também sou do tempo em que o verbo namorar não tinha qualquer conotação sexual. Pelo contrário, no namoro, o sexo era proibidão, principalmente para as moças (adolescentes e jovens). Não se devia ou podia fazê-lo antes do casamento e aquela que ousasse experimentá-lo antecipadamente ficava mal vista e mal falada pela sociedade. Os namorados deviam ser apresentados à família, participar dos almoços aos domingos e aparecerem no máximo três vezes por semana: quarta, sábado e domingo.
Hoje o sexo está implícito no sentido do verbo namorar, o que justifica levantar a bandeira de que criança não namora. Não meeesmo!
Voltando à inocência da infância de tempos passados, era comum as crianças dos anos 70 gostarem de alguém e acreditarem que o namoravam, mesmo que o "parceiro" não soubesse daquele gostar especial. Era quase o crush de hoje em dia para os nossos jovens. Acho que essa pode ser a versão de namoro escondido mais fidedigna que conheço.
Pois bem, me casei muito nova e, quando me separei, depois de um total de dezessete anos de convívio (namoro + casamento), tinha perdido a noção de namoro (qual seria agora?). Perdi a minha bússola afetiva. O que não deixou de gerar alguns problemas semânticos e sentimentais.
Não por acaso, o primeiro relacionamento amoroso que tive depois do novo estado civil teve um descompasso conceitual: eu namorei/ele ficou/nós tivemos uma amizade colorida. Isso eu entendo com as gradações da palavra namoro que só a vivência me permitiu.
Então à toa, quando o crush foi, meio de lado, já saindo, indo embora da minha vida, trouxe-me de presente o CD de Milton Nascimento, "Encontros e despedidas", foi nele que escutei pela primeira vez a música "Lágrima do Sul" que se tornou a minha predileta do compositor.
Seja lá qual for o nome que tenha tido, achei o fim dessa relação digno, sagaz e poético. A amizade?! Essa resiste até hoje.
A plataforma da nossa estação é a vida.
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