Abri o baú e, foi olhando para trás, que esbarrei em um de meus textos em que me dizia uma mulher de felicidades bobas: simplicidade, natureza, poesia, beleza, afeto, ser e estar em paz. Foi um alívio constatar que continuo bem assim: felicidade ainda é estar e deixar-se em paz. Aliás, pra mim, a paz é o bem intangível mais precioso que se pode ter.
Foi me relendo que busquei a memória daquilo que me compôs até aqui para ser/estar/sentir o que sou hoje. E me dei conta da importância que minhas relações amorosas tiveram na composição do meu eu. Uma de modo especial.
Começamos juntando moedinhas para pagar um lanche pros dois. Tivemos altos e baixos. Fizemo-nos as melhores surpresas quando a situação financeira de ambos melhorou. Juntos topávamos o mais simples café na padaria e o almoço mais sofisticado num restaurante com pedigree. A quatro mãos, preparamos muitas vezes um de nossos pratos preferidos. Foi uma relação intensa. Mas, mais do que as lembranças daquilo que fizemos juntos, ficaram os bens intácteis que ela deixou em mim.
Por ser um pai exemplar, também eu procurei ainda mais ser uma mãe próxima do meu filho. Por ele comemorar cada pequena vitória, aprendi a saborear a simplicidade cotidiana, as pequeninas felicidades de cada dia. Por estar sempre alegre e ser divertido, meu riso ficou mais fácil. Por gostar de músicas animadas, minha alma aprendeu a sambar. A verdade é que nossa relação apurou meu paladar pra vida e me transformou.
Foi perfeita?! Longe disso, houve muita turbulência. Faltava-nos paz. Mas foi essencial. Permanece em mim na sua melhor face, aquela que foi incorporada, que faz parte da minha natureza., que já é da minha essência.
Antoine de Saint-Exupéry é que estava certo: "o essencial é invisível aos olhos". E nossas vivências por vezes vão forjar - no sentido de dar nova forma - a nossa essência.
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