quinta-feira, 21 de julho de 2022

Milton: um beijo de paz


Tenho acompanhado as notícias sobre a despedida de Milton Nascimento dos palcos com carinho imenso. O cantor, intérprete e compositor faz parte da trilha sonora da minha adolescência. Em 1985, não havia jovem que não soubesse cantar Coração de Estudante, Travessia e Caçador de Mim. 

Era um tempo de efervescência e turbulência política no Brasil. As canções dele eram a marca dos corações esperançosos da juventude, que em uníssono as entoava. Como é bom lembrar dessa época! Havia um sol com promessas de uma pátria mãe gentil no horizonte. 

Não foi bem assim, mais tarde, quando vieram as eleições diretas, a eleição de Collor de Mello deixou claro que tínhamos muito a aprender e, mais uma vez, a juventude, agora cara pintada, renovava em cada um de nós a mais tenra esperança e apontava-nos o brilho de uma nova aurora a cada dia. Sendo assim, tratávamos de cuidar do broto da democracia pra que a vida nos desse flor e fruto. Bituca e suas músicas eram/são parte de nossos sonhos.

As promessas ensolaradas se cumpriram em grande parte durante alguns anos com ordem, progresso e respeito à Constituição Cidadã de 1988. Pelo menos até 2016. As músicas de Milton sobrevivem com o mesmo vigor até hoje e ainda nos dão fôlego para resistir à brutalidade atual.

Em 20/07/2018, tive a felicidade de assistir junto de minha mãe, do meu filho e da namorada dele, a um show de Milton no Quitandinha e ,como no dia 18 houvesse sido o centenário de nascimento de Nelson Mandela, Milton entoou "Lágrima do Sul", música composta por ele para homenagear Madiba e também a minha preferida de seu repertório. Trago em mim o toque do tambor e reverencio a beleza daquele momento. 

Há artistas que nos compõem. Milton está entre aqueles que me conferem mais inteireza, que fazem mais feliz, mais forte, mais pensativa e mais terna.

Sentirei saudade dele nos palcos, embora entenda os motivos que tem para deixá-los. Em mim, no entanto, ele sempre está e sempre estará. Ele sempre é e sempre será. Tenho dito!

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